O mercado de escritores independentes cresceu durante a pandemia. Os dados do Clube dos Autores, plataforma de autopublicação, revelam um aumento de 30% no número desse tipo de produção em 2020. Ao longo do isolamento, foram publicadas mais de mil obras por mês, quantidade muito acima do ano de 2019, cuja média era de 30 livros. A plataforma já conta com mais de 72 mil títulos.
Em 2021, a venda de livros cresceu 29,3%. Já o faturamento do setor aumentou 29,2%. Os dados são do Painel do Varejo de Livros no Brasil, pesquisa realizada pela consultoria Nielsen BookScan e divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
A facilidade e o baixo custo são fatores estimuladores para a produção independente, uma vez que o leitor consegue adquirir uma obra por menos de R$ 20. O autor não tem gasto com as publicações on-line e, ainda, fica com 100% do lucro. Outros motivos também levam os escritores a optarem por publicar por conta própria, como livros em homenagem à família que não requer uma tiragem grande, ou até mesmo, para não perder a liberdade na hora de escrever.
A presidente da Câmara Mineira do Livro, Glaucia Gonçalves, explica que, muitas vezes, escritores batem à porta de editoras para publicarem os seus textos e não encontram uma parceria. “Esse processo pode ser demorado e nem sempre exitoso. As plataformas digitais de publicação independente trouxeram mais facilidade e, por consequência disso, o número de escritores também tem crescido”.
Para ela, a visibilidade desses títulos e seus autores são importantes para movimentar toda a cadeia do mercado editorial, desde a contratação de diversos profissionais, como designer gráfico, ilustradores, revisores até o uso da logística. “Muitos conseguem chamar a atenção das editoras com o seu texto publicado e, por muitas vezes, são contratados para uma edição maior, com olhar profissional e ampla distribuição”.
Contudo, em sua opinião, esse índice sempre pode ser maior. Por isso é fundamental que esses autores sejam estimulados. Uma maneira de fazer isso é com eventos como a Bienal do Livro, que acontece dos dias 13 a 22 de maio, no BH Shopping, na capital mineira. “É uma oportunidade para os escritores independentes mostrarem seus livros e fazerem networking com as editoras, livreiros, outros autores e o público em geral. Além de conhecerem outras publicações e a bibliodiversidade”.
Com a proposta de estimular a leitura, especialmente, nas comunidades mais vulneráveis, a Bienal distribuiu mais de 89 mil ingressos para professores e estudantes da rede pública. A organização da feira aguarda cerca de 150 mil visitantes e 60 editoras. “Depois de 6 anos sem termos a maior iniciativa literária de Minas Gerais, nossa expectativa é a melhor possível. Além da versão presencial, a Bienal se tornou permanente e itinerante. No segundo semestre estaremos em 20 cidades do interior”, relata o diretor geral do evento, Marcus Ferreira.
Ele acrescenta que a feira é essencial para todo o setor, pois gera conexões, encontros de quem escreve com quem edita, produz, divulga e vende. “O autor independente passou a contar com inúmeros recursos digitais para editar e imprimir os seus livros. Atualmente, de forma on-line, ele tem acesso a aplicativos, plataformas e recursos que facilitam a sua produção literária. Ainda assim, precisamos estimular a produção literária e um dos caminhos é a realização de iniciativas como a Bienal”.
Para o autor do livro “Cores do Universo”, lançado de forma independente, Luiz Renato de França, de fato, falta incentivo e informações de qualidade acerca de como se publicar. “Muitos autores querem fazer isso, mas não sabem como. Ou seja, existem muitos escritores ávidos para colocarem as suas ideias ou mesmos livros na praça”.
Ele ressalta que uma das vantagens que viu na publicação independente foi o contato direto com o editor. “Algumas etapas do processo se tornam mais lentas que o esperado, mas vale a pena. Isso deu o pontapé inicial para que eu publicasse o livro. Até então, não havia encontrado outros canais acessíveis ou facilitadores nos incipientes contatos que havia feito com editoras tradicionais”, conclui.