A invasão de perfis na rede social Instagram é um crime cibernético que vem crescendo e preocupando as pessoas. De acordo com levantamento bruto de dados realizado pela Coordenadoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG), apenas em janeiro de 2022 foram registradas 388 ocorrências de acessos indevidos, seguidos de golpes para obtenção de valores no estado. Esse número é quase 4 vezes maior do que a média do segundo semestre de 2021, que foi de 104 casos por mês.
O coordenador da Coeciber e promotor de Justiça, Mauro Ellovitch, explica que a maneira mais comum de apropriação de perfis alheios no Instagram se dá por meio de “phishing”, que consiste no roubo de informações a partir de links adulterados. Perfis falsos também são usados com frequência para representar cidadãos ou empresas, conseguindo enganar as vítimas para que elas enviem dados pessoais ou bancários, informem credenciais de login ou façam pagamentos.
Foi o que aconteceu com a vendedora, Paula Gabrielle, que anuncia produtos em sites de venda, e recebeu uma mensagem no WhatsApp pedindo que ela enviasse um código de confirmação para que seus anúncios não fossem retirados do ar. “Eu precisava fornecer uma combinação de números que viria por SMS e, assim, que mandei a minha conta foi invadida”, disse. Os golpistas usaram o perfil de Paula para oferecer seus artigos por valores menores. “Uma amiga me ligou perguntando se eu havia sido hackeada, porque eles começaram a fazer anúncios de itens com preço bem abaixo do mercado”.
Após ter ciência do golpe, Paula conseguiu recuperar sua conta depois de 2 dias. “No Instagram usei a ferramenta ‘preciso de ajuda’, que tem a opção ‘acho que minha conta foi invadida’, depois disso, fiz alguns procedimentos como o envio de selfie. Com isso, alterei o e-mail e o telefone de contato que estavam vinculados”.
Ela também relata que sua amiga fingiu que iria fazer uma transferência para o bandido e por meio da chave Pix, descobriu o nome completo do hacker. “Eu encontrei ainda o e-mail da pessoa, e fiz um boletim de ocorrência na Polícia Civil, mas, como não tive perdas, não deu em nada”.
Outra vítima do golpe foi a atendente, Andressa Bianca, que viu uma promoção enganosa nos stories de uma pousada. “Por ser um lugar que já fui e conheço os donos, não imaginei que seria falso. Enviei uma mensagem, eles pediram meu telefone e meu e-mail, assim que encaminhei os dados, em questão de minutos, não conseguia mais acessar minha conta. Como tinha o contato do local, liguei para saber informações, mas já era tarde. Eles me informaram que o perfil da pousada havia sido hackeado e que, assim, invadiram o meu também”.
Os golpistas alteraram as informações da conta como senha, e-mail e telefone para onde chegava o código de confirmação, por isso, Andressa não conseguiu recuperar o perfil. “Quando eu solicitava a combinação numérica, ela ia para o telefone dos bandidos e não para o meu. Após várias tentativas, acabei desistindo. Como não consegui nenhum tipo de resposta do Instagram, pedi aos meus amigos que dessem unfollow, bloqueassem e criei outra conta”.
Ao tentar fazer o boletim de ocorrência on-line, Andressa afirma que não aparece a opção de crimes cibernéticos, sendo necessário comparecer pessoalmente à delegacia. “Como trabalho todos os dias e estou gestante, não consegui ir ainda. E quando eu ligo lá, eles dizem que o que pode ser feito é apenas o registro, não tem muitos recursos”.
O advogado criminalista, Lucas Miranda, esclarece que quando a rede social não resolve o problema, cabe processo. “É possível uma ação judicial para tentar obrigar a empresa a restituir a senha ou, ao menos, deletar a conta. Atualmente, já existe jurisprudência concedendo também indenização por danos morais ao titular do perfil hackeado quando a rede social não atua imediatamente para devolver ou apagar a conta”.
Segundo ele, em casos de pagamentos realizados para os golpistas, o ideal é agir rápido. “Se for pelo Pix, por exemplo, o indicado é notificar o mais breve possível a sua instituição financeira requerendo o cancelamento da transação. Se ela já tiver sido efetivada, no entanto, a única saída é tentar um processo judicial contra a pessoa que recebeu o dinheiro”.
Para isso, a vítima deve procurar um advogado ou ir à delegacia com os dados necessários. “É preciso levar o comprovante da transação e os documentos do titular da conta que recebeu o Pix e solicitar a abertura de um inquérito policial”. Contudo, Miranda diz que nem sempre haverá sucesso, uma vez que muitas das contas usadas são falsas. “Infelizmente, a maioria delas costuma estar em nome de pessoas que sequer sabem de sua existência. Dessa forma, acaba sendo difícil recuperar o dinheiro perdido”.
Por fim, o advogado dá dicas de como se proteger desses golpes que vêm se tornando cada vez mais comuns. “Nunca utilize a mesma senha em diversos sites e, além disso, ative todos os mecanismos de segurança, por exemplo, a verificação de duas etapas”.