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Pressão por perfeição no mundo digital prejudica a saúde mental dos jovens

Exposição exagerada causa problemas tanto em quem posta quanto em quem consome o conteúdo | Foto: Divulgação

Hoje em dia, a maioria dos brasileiros possui um perfil nas redes sociais. E entre as tarefas do dia a dia, uma boa parcela, principalmente os adolescentes, fazem uma parada para conferir as fotos, vídeos, entre outros diversos conteúdos postados nas mídias. O problema é que a simples ação pode ser tóxica para a saúde mental. Isso porque a vida mostrada no mundo digital nem sempre reflete uma realidade. Isso pode trazer consequências, como ansiedade, depressão, solidão, baixa autoestima e dificuldade de relacionamento fora das redes. Sobre este tema, o Edição do Brasil conversou com Amanda Soares, psicóloga especialista em comportamento humano.

As redes sociais são um mundo perfeito?
De certa forma sim, afinal, todo mundo só posta o lado positivo. A vida é mostrada nas telas de um jeito perfeito, como se não houvesse o lado ruim das coisas. Não posso afirmar com certeza e também não existem pesquisas sobre o assunto, mas a maioria das pessoas utilizam retoques e filtros antes de publicar uma foto na rede social. É uma suavizada na olheira, uma correção e uniformizada na pele, alguns centímetros a menos na cintura para exibir um corpo esbelto. E o que não falta são aplicativos para realizar o procedimento de forma rápida e gratuita.

Quais consequências essa perfeição pode causar?
As fotos de rostos incríveis e corpos perfeitos são comuns nas redes sociais. Basta olhar o feed por alguns minutos para ver as imagens. Essa exposição exagerada causa problemas tanto em quem posta quanto em quem consome o conteúdo. Quem está publicando distorce a realidade para exibir o que considera satisfatório. Já quem assiste o material busca se equiparar a essa vida paralela e se torna cada vez mais infeliz, visto que esses padrões são inatingíveis. As principais implicações são ansiedade, depressão, solidão, baixa autoestima e dificuldade de relacionamento fora das redes. É muita cobrança para ter uma vida e corpo perfeito, inclusive, alguns podem desenvolver transtorno alimentar.

Quais outros problemas essa pressão na busca pelo inatingível pode trazer?
Os jovens estão na fase de aprendizado e descobertas, gerando muitos conflitos interiores. Eles buscam se sentir aceitos pela sociedade, principalmente a questão da aparência conta muito, o que pode levá-los a cometer excessos, como modificar o próprio corpo. Tanto que um dos métodos que mais cresceram no Brasil foi a tal da harmonização facial. Todos querem ter um rosto padrão e bem definido e não poupam gastos para realizar o procedimento. Outros mais invasivos também são buscados, como a rinoplastia para deixar o aspecto do nariz perfeito e a lipoaspiração para sugar a gordura extra do corpo. O fato é que a magreza e beleza mostradas nas redes são irreais. As pessoas precisam trabalhar a questão da aceitação, pois durante a busca pelo mundo perfeito, podem acabar prejudicando também a saúde mental.

Existe um limite para uso das redes sociais? Quando vira um transtorno?
Especialmente nesse período de pandemia as pessoas estão passando mais tempo conectadas e gastam horas consumindo os conteúdos postados nas redes sociais. O ideal é que não fiquem acessando as mídias por muito tempo. Sempre falo aos meus pacientes que dar uma olhada no final do dia é mais que suficiente, afinal, o algoritmo das plataformas vai mostrar as mesmas coisas das últimas 24 horas de acordo com o perfil das pessoas que o usuário segue. É importante ter consciência das horas que passamos conectados no celular e tentar mudar esses hábitos lentamente.

Um bom indicador é observar se as publicações visualizadas constantemente trazem aquela sensação de tristeza e sofrimento frequente. Ou seja, se quando vejo aquilo quero mudar algo em mim ou almejo que a minha vida seja igual. Se a pessoa acessa esse perfil todo dia e fica culpada por não ser semelhante, acredito que é interessante repensar se vale seguir esses perfis. É fundamental que os indivíduos aprendam a gostar da própria imagem e aparência, pois não existe um padrão de beleza único. Precisamos nos aceitar, independente de filtros de redes sociais.

Como os responsáveis podem identificar que a rede está fazendo mal aos filhos?
Eles devem ficar de olho na quantidade de tempo que os filhos gastam nas redes sociais, avaliar o conteúdo consumido e quem estão seguindo. Isso mostra muito da personalidade deles. Ter um bom diálogo é fundamental para saber o que estão pensando e como estão se sentindo. Muitas vezes os jovens guardam para si algum problema, seja por vergonha ou por medo de contar alguém. Nesse sentido, os pais devem avaliar como está a autoestima dos meninos e meninas. Como já falado, eles costumam se comparar com a vida mostrada nas redes e acabam sofrendo por não conseguirem alcançar essa falsa perfeição. Caso os responsáveis notem que está ligado à questão da aparência e isso está causando algum tipo de tristeza ou sofrimento, uma ajuda profissional pode auxiliar.