Em 2022, o Brasil comemora os 200 anos de independência, sem dúvida, um marco histórico. Hoje, temos orgulho de sermos uma grande nação, com princípios constitucionais definidos e um estado brasileiro consolidado. Entretanto, depois de tanto tempo, ainda permanece um fosso social a ser reparado, sobretudo, quanto à plena integração dos negros, principalmente no que diz respeito à igualdade. Esse é um desafio a ser vencido e não por um governo, mas por toda sociedade brasileira.
Segundo o professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Alexandre Braga, especialista em Políticas Públicas de Raça e Gênero e presidente da União de Negras e Negros Pela Igualdade (Unegro), houve o fim da escravidão em 1888, mas a estrutura de poder continua nas mãos de pessoas brancas. “Os negros deixaram de ser escravos, mas não foram criadas políticas públicas efetivas de inclusão. Assim, mesmo depois de 130 anos, os problemas de desigualdade persistem”.
Braga chama a atenção ainda para o fato de 80% dos negros viverem em vilas e favelas e passarem fome ou terem dificuldade de manter uma alimentação de qualidade. “Isso sem mencionar a violência policial perante esse grupo. No Brasil, a cada 23 minutos um jovem negro, com idade entre 15 e 29 anos, é assassinado. Os negros representam 75% das mortes cometidas por policiais. A chance de uma pessoa preta ser assassinada no país é de 2,6 vezes maior que a de um branco”.
O secretário de Planejamento do Território e Participação Popular (SEPPOP) da Prefeitura de Juiz de Fora e atual secretário nacional de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores (PT), Martvs das Chagas, corrobora ao dizer que o racismo e a desigualdade racial são problemas que afetam o Brasil desde a sua formação, pois, mesmo com a abolição da escravatura, a segregação socioeconômica e o preconceito seguem presentes na sociedade.
De acordo com ele, a população negra continua ocupando os lugares mais baixos na hierarquia social, além de lidar com os índices de desemprego, violência, exclusão educacional, entre outros agravantes. “Por estarem na base da pirâmide social, no momento de crise, como acontece agora, geralmente, são os primeiros a perderem o emprego”.
O racismo é uma questão frequentemente presente nas conversas em todo o país, no entanto, falta consciência das elites dominantes para trilhar um caminho com o objetivo de extinguir essa chaga aberta que machucou e ainda machuca o corpo e a alma de tanta gente.
O assunto é de extrema importância e deve seguir sendo pauta, inclusive desde os primeiros anos de vida de uma criança, seja em casa ou na escola, para que possamos criar uma juventude mais consciente da sua responsabilidade, visando estancar, de uma vez por todas, essa ferida social que teima em não querer cicatrizar.