Independentemente da idade, a obesidade é um fator de agravamento do quadro de COVID-19 e óbitos causados pela doença do novo coronavírus. É o que aponta a pesquisa “COVID-19 e obesidade: uma análise epidemiológica dos dados brasileiros”, desenvolvida pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade de Florença (Itália).
Como explica a pesquisadora Jacy Gameiro, uma das responsáveis pelo estudo, o excesso de gordura por si só é um estado de inflamação do corpo. “É o que chamamos de indivíduo inflamado, o que significa que a pessoa tem um distúrbio no sistema imunológico que tem associação com o endócrino e que, por sua vez, impacta também na parte cardiovascular e nas funções pulmonares. Portanto, todo o organismo da pessoa com obesidade possui metabolismo alterado, o que pode gerar comprometimento quando acometido pela doença do novo coronavírus”, afirma.
A pesquisadora explica que a análise foi realizada a partir de documentos públicos da base Sars 2020, registrado pelo Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Foram analisadas as informações de idade, sexo, ausência ou presença de comorbidade, dados sobre óbitos e cura e também a necessidade de admissão em Unidade de Terapia Intensiva (UTI’s) e uso do suporte ventilatório.
“O dado mais importante é mostrar que indivíduos com obesidade, independentemente da idade, apresentam fator de risco para os quadros graves de COVID-19 e óbitos. Aqueles que precisam de suporte ventilatório mecânico invasivo e, posteriormente, podem vir a óbito. Quando pegamos outras comorbidades, como diabetes ou hipertensão, a idade é um fator importante. Isso quer dizer que pessoas com comorbidades acima de 60 anos têm gravidades e complicações maiores que indivíduos com as mesmas doenças, porém mais jovens. No caso dos obesos, o fator idade não tem um peso. Pessoas acima do peso mais novas ou acima de 60 anos apresentam quadros graves e óbitos na mesma proporção”, diz.
Outro ponto do estudo foi investigar como os óbitos causados pela COVID-19 eram distribuídos, considerando a idade e o sexo dos pacientes. Nessa perspectiva, a análise aponta que as mulheres com obesidade, que morreram acometidas pela doença, são mais velhas do que os homens que viviam com a mesma comorbidade. “Em relação às mulheres, o que acontece é que devido à menopausa há um aumento progressivo do tecido adiposo visceral que está associado a um metabolismo mais complicado com mais alterações imunológicas e essa extensão pode explicar o agravamento quando comparadas aos homens. Até porque aparentemente, de acordo com alguns estudos, o estrógeno também seria um fator protetor à COVID, hormônio que elas perdem após a menopausa”, explica Jacy.
Ainda segundo a pesquisadora, não são somente os casos de obesidade mórbida que podem apresentar quadros mais graves da doença, mas qualquer sobrepreso. “Nos dados disponíveis não conseguimos acessar ao Índice de Massa Corporal (IMC) dos pacientes, mas acreditamos que qualquer grau (I, II ou III) é fator de risco. Dados do Brasil e do mundo inteiro levam para uma direção de que todos os níveis apresentam risco porque muitas pessoas acima do peso, inclusive, possuem outras comorbidades associadas como doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes, por exemplo. Todo esse quadro meta-inflamatório é um cenário complexo que não está presente apenas nesses indivíduos”, esclarece.
Para Jacy, o Programa Nacional de Imunização (PNI) deveria priorizar o grupo na vacinação. “Embora, ele tenha privilegiado as pessoas com grande excesso de peso, outros indivíduos de graus variados de obesidade aparentam serem grupos de risco importantes para COVID-19. O programa deveria repensar essa medida e contemplar a pessoa acima do peso. Em relação ao sobrepeso, nós não temos esses dados, mas quando imaginamos que o indivíduo é uma pessoa que pode ter algumas questões metabólicas, imunológicas e cardiovasculares significativas, ele deve ser bem manejado. No caso da Influenza, temos informações que mostram que indivíduos com sobrepeso representam maior risco de agravamento da doença”, ressalta.