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Aço brasileiro teve avanço de 130% nos últimos 12 meses

Dados da S&P Global Platts apontam que o preço do aço brasileiro cresceu em maio. A bobina laminada a quente, produzida no país, saltou 16,2% na primeira semana do mês e estava sendo comercializada a R$ 6.855 a tonelada sem impostos. O produto usado pelos setores automotivo, de construção e de diversas indústrias acumula alta de 46% no ano e de 130% nos últimos 12 meses.

Até março de 2021, mais de 70 mil toneladas de vergalhão, principal insumo do setor de construção civil, chegaram aos portos brasileiros. O número é superior aos registrados nos anos anteriores (15 mil toneladas em 2020, 46 mil em 2019 e 35 mil em 2018). O preço já foi reajustado em 13,5% neste ano e mais de 100% nos últimos 12 meses.

A demanda no Brasil ultrapassou a produção de mais de 350 mil toneladas em março, o maior diferencial reportado desde o início do monitoramento realizado pelo instituto Aço Brasil. Já a produção alcançou a marca de 2,09 milhões de toneladas no mês, comparada a um consumo de 2,44 milhões de toneladas. A última vez em que ocorreu um descompasso desta magnitude foi em agosto de 2013.

Ainda segundo os dados do instituto, esse descompasso mais recente teve início em junho de 2020, com a retomada das atividades do comércio e indústrias pós-período de restrições da pandemia. Para a editora- -chefe da América Latina – Metais da S&P Global Platts, Adriana Carvalho, nesse período, muitos esperavam por uma retração na demanda. “O que motivou as siderúrgicas a reduzirem o ritmo de produção. Tudo isso em um momento onde a cadeia já estava bem desestocada. E quando a demanda se tornou presente, não foi possível realizar uma retomada imediata. Isso agravou o desabastecimento local e o converteu em uma crise de estoque”.

Ela acrescenta que, com pouca oferta e demanda firme, os preços subiram e fecharam 2020 com altas de 60% a 70% dependendo do produto. “A tendência não se reverteu em 2021. Do início do ano até agora, o valor da bobina laminada a quente – material utilizado por grandes indústrias de transformação, como o setor automotivo, máquinas e equipamentos – subiu 69%, sendo 16% somente em maio. Para o vergalhão de aço, insumo principal do setor de construção, o acumulado do ano é de 23%, com possibilidade de aumentos em maio da ordem de 15%”.

A editora-chefe acrescenta que a alta de preços no mercado internacional, tanto para produtos como para matérias-primas, tem contribuído para a manutenção dessa tendência. “A competição no exterior influencia em vários fatores: valores locais, decisão das usinas siderúrgicas de exportarem seus produtos e dos consumidores de importarem o material para o Brasil”.

Ela ressalta ainda o aumento dos custos produtivos das usinas. “O minério de ferro com 62% de Fe – Iodex Platts – subiu mais de 130% nos últimos 12 meses. A sucata ferrosa interna triplicou o valor no período e o carvão importado também encareceu”.

Setores impactados

Adriana explica que o aço é matéria-prima para diversos setores e está presente nos utensílios domésticos, transporte e construção civil. “Também é essencial no ramo de embalagens, energia e agricultura – nos equipamentos e máquinas utilizados. A construção civil representa o principal segmento consumidor do país (37,6%), seguido pelo automotivo (24,1%) e bens de capital (20,5%), de acordo com dados do Instituto Aço Brasil”.

O aumento do valor dessa commodity impacta no preço dos produtos derivados, transformados e aumenta o custo de produção ou operação dependendo do setor. “A velocidade com que esses repasses acontecem, no entanto, depende do tipo de contrato existente e do percentual de aço na composição das tarifas de cada processo produtivo. Na construção, o repasse é praticamente imediato, o que significa dizer que encarece projetos e o vergalhão vendido no varejo para as reformas residenciais. Já em relação à fabricação de carros e de eletrodomésticos, o custo também é repassado ao usuário-final, uma vez que mais da metade da composição desses produtos é de aço”.

Porém, o aumento pode trazer impacto positivo para a economia brasileira. “A onda de alta das commodities é benéfica para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. No entanto, a escalada de valores não pode ser tão elástica ao ponto de deteriorar projetos e contratos em vigor”.

Expectativa

Adriana reforça que levando em consideração as condições atuais de mercado, no Brasil e no mundo, é razoável pensar que os preços seguirão firmes até pelo menos o fim do ano, quando se espera certa estabilidade. “Uma queda talvez não aconteça tão brevemente. Usinas siderúrgicas brasileiras revelaram planos de restabelecer projetos de expansão que estavam engavetados. Mas, o tempo que levará para que esses volumes adicionais estejam no mercado não será breve o bastante para reverter o cenário de preços recordes e oferta escassa que se estabeleceu em 2021”.

Ainda assim, ela explica que, se um volume significativo de importação adentrar o país no segundo semestre, como já sinalizado por alguns traders, isso poderia frear a escalada de alta e trazer estabilidade antes do fim do ano.

Numa perspectiva global, ela observa que o minério de ferro continua caro, sem expectativa de queda em curto prazo e a oferta continuará limitada, segundo projeções de vários analistas. “A China tem removido a devolução fiscal às exportações de aço. Ao mesmo tempo, está reduzindo as tarifas de importação a insumos importantes ao seu processo produtivo. Com isso, a onda inflacionária de valores ao aço global tomou novas proporções, com o gigante asiático tornando-se um novo driver de preços, mas, desta vez, para cima”.