Após mais de 13 milhões de brasileiros se recuperarem da COVID-19 no Brasil, um novo problema acende o alerta dos médicos: a síndrome pós-COVID. Caracterizada por uma série de sintomas prolongados ou que surgem após o período de infecção pelo coronavírus, o problema pode pressionar ainda mais o sistema de saúde do país.
Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, quanto maior o índice de infecções, maior o número de pessoas que vão precisar ser assistidas em longo prazo. “Automaticamente, isso fará surgir uma demanda de rearranjo do sistema”.
De acordo com ele, essa adaptação, já está sendo pensada. “Os ambulatórios pós-COVID ainda estão sendo idealizados. Alguns poucos hospitais já contam com esse espaço, que é multidisciplinar e especializado para atender esses pacientes. Tudo isso contando com equipe de médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e etc”.
O especialista explica que a síndrome é representada por sinais que aparecem após 30 dias da doença. “Eles não desaparecem após o período de infecção ou o indivíduo começa a apresentar novamente alguns sintomas, que podem afetar quaisquer órgãos, por exemplo, o pulmão, rim, coração e até o sistema nervoso”.
Ele acrescenta que, em casos mais graves, as chances dos indícios surgirem ou continuarem aumentam. “Isso porque a frequência de sintomas é maior e mais complexa. É importante ressaltar que o vírus já desapareceu, portanto, não há chance de transmissão da COVID. O que justifica a síndrome são alterações da inflamação que persistem por muito tempo, mesmo depois da infecção”.
Segundo Urbano, o estado inflamatório é o principal sintoma, porém existem outros que são causados por sequelas e fibroses que acontecem durante a fase aguda da doença. “Essas pessoas, dependendo do sinal que tem – que podem ser mais leves, como dor no corpo ou articulações, ou mais graves, como falta de ar e alterações nos rins -, vão precisar de reabilitação”.
Para esse processo, é preciso observar os indícios e buscar ajuda médica. “Tudo depende do quadro que o indivíduo apresenta. Para quem tem dificuldade na respiração, por exemplo, é indicado um pneumologista. Já quem tem problemas no coração, como taquicardia, deve ir a um cardiologista. Entretanto, se a pessoa ficar na dúvida sobre qual profissional buscar, o ideal é se consultar com um clínico que fará o encaminhamento correto”.
O infectologista alerta que a síndrome pós-COVID pode ser grave. “A pessoa pode ter impactos no pulmão, que afeta a respiração e, consequentemente, a qualidade de vida. Em casos de trombose, pode ser até fatal”.
Um dia de cada vez
Após ficar 10 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por consequência da COVID-19, a advogada Grasieli Basílio teve a capacidade do pulmão reduzida e apresentou sintomas após seu período de infecção. “Me recuperei bem no hospital, porém, depois de cerca de 25 dias, a falta de ar voltou junto a um cansaço esquisito. Pensei até que estava infectada de novo”. Mas, segundo ela, se tratava da síndrome. “O médico que me atendeu explicou que alguns pacientes apresentavam sintomas tardios. Ele me encaminhou a um fisioterapeuta e, hoje, faço reabilitação para melhorar a saúde do pulmão. É um período longo, mas o importante é que existe um tratamento e, principalmente, que sobrevivi”.
Já a publicitária Mariana Santos sofreu com a queda de cabelo. Ela recorda que não associou o indício à COVID. “Após umas 3 semanas da minha cura, meus fios começaram a cair e perdia bolos de cabelo a cada vez que escovava. Achei que poderia ser estresse, mas notei que até meu volume capilar havia diminuído e decidi ir a uma dermatologista. A primeira pergunta que a especialista me fez foi: teve COVID recentemente? Eu nunca iria imaginar que a doença poderia causar isso. Estou tomando algumas vitaminas para fortalecer meu cabelo”.