As senhas criadas para proteger contas físicas ou digitais garantem a nossa segurança. Revelamos esses dados apenas a pessoas de extrema confiança. Por esse histórico, ainda é comum que muita gente estranhe pagar por aproximação, modalidade em que uma compra é efetuada apenas colocando o cartão perto da máquina, sem a necessidade de digitar a senha. Mas, esse hábito tem aumentado entre os brasileiros. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) apontam que o pagamento sem contato foi realizado 587 milhões de vezes em 2020, o que representa um crescimento de 374% em relação ao ano anterior.
De acordo com a Abecs, durante 2020, a quantidade mensal de transações dessa modalidade passou de 22,6 milhões, em janeiro, para 114 milhões, em dezembro. O volume movimentado também saltou. Em 2020, foram R$ 41 bilhões em compras por meio de cartão, celular, relógio, entre outros dispositivos equipados com a tecnologia NFC (Near Field Communication), o que significou um avanço de 470% em relação a 2019. Como forma de proteção, existe um limite de valor que pode ser efetuado sem necessidade de senha. O teto, que antes era de R$ 50, passou para R$ 100, em julho de 2020, e, atualmente, é de R$ 200.
Leandro Menegon, diretor de operações de uma empresa de desenvolvimento de softwares focados em tecnologias para o setor financeiro, explica que pagar por aproximação é tão ou mais seguro que aquele realizado com cartão e senha. “Isso porque na compra realizada neste tipo de tecnologia, conhecida como NFC, é utilizado um tipo de criptografia, alterada a cada transação, que protege os dados do cartão, dificultando muito uma possível clonagem ou acesso às informações. Além de eliminar a necessidade de o cartão ser entregue na mão de uma terceira pessoa, ou seja, ele permanece com o seu dono 100% do tempo. Essa tecnologia também é provida de mecanismos que impedem um pagamento em duplicidade, caso se encoste acidentalmente o cartão duas vezes no terminal”, explica.
Efeitos da pandemia?
Na análise da Abecs, as mudanças no comportamento de consumo causadas pela pandemia da COVID-19 aceleraram a popularização do método por aproximação.
Menegon avalia que, apesar de não ser uma tecnologia criada devido à crise sanitária, seus benefícios em relação a evitar o contato direto com máquinas e outras mãos são nítidos. “Acredito que a maior vantagem, inicialmente pensada, tenha sido a agilidade. Em poucos segundos, o usuário paga pelo que consome. Mas, é claro que com o advento do cartão sem contato, a sensação de segurança com relação ao contágio do novo coronavírus, ao realizar compras com menor exposição e sem a necessidade de tocar teclados numéricos ou entregar o cartão para um funcionário, tornou este processo de aceitação muito maior”, afirma.
Outra pesquisa reforça a ascensão do método. Levantamento da Mastercard, no início da pandemia, apontou que 88% dos brasileiros consideravam o pagamento sem contato mais conveniente do que o uso do dinheiro. Na ocasião, 75% daqueles que experimentaram a tecnologia, incorporaram o novo hábito ao cotidiano e afirmaram ter a intenção de continuar após a crise sanitária. Dentre os adeptos da modalidade, os meios mais utilizados foram cartão físico (72%) e celular (49%).
Fim das carteiras?
Para Menegon, essa é uma realidade sem volta e a tendência é que este processo fique ainda mais tecnológico. “Com a tecnologia NFC, o próprio celular será esse instrumento, tornando o cartão físico obsoleto e mais um objeto desnecessário a se carregar. Logo as carteiras serão aposentadas de vez”, acredita.
Em relação à segurança, ele diz que os mecanismos de proteção passam por constantes atualizações. “Não significa que o risco de fraudes deste tipo de tecnologia seja zero. A criatividade dos fraudadores é algo que, em geral, assusta muito o mercado. Porém, felizmente, temos equipes técnicas do bem, competentes o suficiente para analisarem novos tipos de fraudes e implementar medidas para contra-atacar. Entretanto, é importante que o portador do cartão ou mecanismo de pagamento por aproximação, seja smartphone, pulseira ou relógio, sempre reforce seus cuidados, da mesma forma como se faz com os meios tradicionais, como dinheiro e cartão com chip”.
Em caso de compras por aproximação não autorizadas, a orientação é que o usuário entre em contato imediatamente com o banco. “O órgão informará ao portador do cartão sobre os procedimentos e documentos necessários de acordo com o processo interno para a realização do estorno”, esclarece o diretor.