A pandemia da COVID-19 fez com que boa parte do mercado se adaptasse, mas, não foi só comércio e serviço que precisou de mudanças, nós, consumidores, também passamos por adequações. Um exemplo disso é o e-commerce que, em 2020, ganhou novos adeptos devido ao isolamento. Uma pesquisa feita pela Social Miner, em parceria com a Opinion Box, mostrou que 50% das pessoas que acessaram a internet para fazer compra disseram nunca ter utilizado este meio antes.
A pesquisa ainda revelou que muitos, inclusive, gostaram da experiência: 73% dos participantes da análise disseram que comprar pela internet se mostrou muito mais prático para algumas coisas. Segundo a análise, agora em 2021, o ambiente digital seguirá tendo força. 52% dos brasileiros devem utilizar mais os e-commerces; 52% vão comprar virtualmente para retirar em lojas físicas; 49% afirmaram que pretendem mesclar suas compras entre o on-line e o offline.
Para o economista Fábio Araújo, alguns fatores fizeram com que, só em 2020, metade da população tenha tido essa primeira experiência. “Alguns consumidores mais idosos não se sentem seguros no e-commerce. Há também uma questão cultural e de falta de prática com o processo eletrônico. Eles também têm certo receio em relação à entrega, qualidade do serviço e a possibilidade de golpes de fornecedores ou mesmo o roubo de dados”.
Outro ponto que o especialista também ressalta é a satisfação de realizar compras presencialmente. “Essas pessoas não veem problemas em se deslocar. Por outro lado, a compra virtual traz dois benefícios: dispensa a locomoção e promove a possibilidade de uma compra mais barata. É necessário destacar que uma parte dos indivíduos não sabe que existe esta diferença de preço do digital para o presencial”.
Apesar de ainda não haver estudos que mostrem o impacto do comércio eletrônico no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o especialista aponta que não há dúvida de que se não existisse essa possibilidade de compras, teríamos passado por um desastre econômico. “Um exemplo, a partir do mercado imobiliário, são os plantões de vendas e as obras, que ficaram paradas por cerca de 3 meses no país. Neste período as vendas caíram, somente em abril a queda foi de 80%”.
Porém, em maio o declínio já era menor que 50% e, em junho, inferior a 25%. “Por fim, em julho, o desempenho já voltou ao equilíbrio com o período pré-crise. As vendas não teriam acontecido se não fosse possível realizá-las de forma on-line”.
Araújo acrescenta que o e-commerce já crescia na casa de dois dígitos e, nos últimos 3 anos, sempre acima de 10%. “Apesar de não parecer um aumento expressivo é importante lembrar que, na mesma época, o comércio convencional crescia entre 1,5% e 3%. Ou seja, as vendas virtuais desenvolviam de duas a três vezes mais que as presenciais”.
Para o futuro, ele prevê que o setor continue se expandindo até três vezes ou mais do que o restante do comércio comum. “Trata-se de uma possibilidade grande da indústria chegar diretamente ao contato com o consumidor e começar a cortar os intermediários”.
Mudança de hábitos
A pesquisa ainda fez uma análise sobre a relação do consumidor com as marcas. Os dados mostraram que os compradores esperam que ela seja mais humanizada. Em 2020, 9,7% dos consumidores disseram ter encontrado lojas on-line por meio de ações de incentivo a pequenos negócios, e 6,5% por ações sociais. E na hora de comprar, 32,9% afirmaram ter escolhido pequenos lojistas ou produtores locais.
O economista observa que isso acontece há um tempo. “A falta de comunicação com um contato humano vem de antes e ainda é um dos principais problemas da venda virtual. O aspecto cultural é um dos entraves para as pessoas não comprarem on-line antes e a ausência de interação humana também entra nesta questão. Isso porque alguns consumidores sentem necessidade de troca de opiniões e sugestões no momento da compra. Na medida em que se vê forçado a entrar no mundo digital, é natural que ele busque fornecedores que atendam de maneira mais humana”.
Em 2021, 54% dos consumidores vão dar preferência para pequenos produtores e marcas locais, 73% deles pretendem consumir de forma mais consciente. Mas, para Araújo, isso é mais desejo do que prática. “No mundo on-line, a escolha de fornecedores locais é muito difícil, pois há uma série de marketplaces em que não é possível saber o local de produção”, conclui.