Um estudo publicado na revista científica Preventive Medicine e realizado pela Rand Corporation mostrou os impactos que a COVID-19 tem causado, em longo prazo, na saúde mental da população. O resultado é surpreendente: o nível de sofrimento psíquico em um único mês de pandemia foi exatamente igual ao experimentado pelas pessoas durante um ano inteiro.
A psicóloga Alessandra Augusto explica que 2020 nos apresentou a uma situação inédita e inesperada. “Nunca imaginávamos ter que usar máscara o tempo todo, não poder abraçar nossos amigos e parentes e estarmos restritos à nossa residência. Passamos por um isolamento dentro de uma pandemia e isso mexe muito com nossa saúde mental”.
Segundo ela, por isso, houve um aumento na ansiedade e no pânico devido a atual situação. “Não só a social, como a saúde e, também, a financeira. Muitas pessoas foram demitidas e outras perderam seus entes queridos”.
A psicóloga acrescenta que o isolamento afetou a cada um de uma maneira diferente. “Uma grande quantidade de indivíduos foi atingida de uma forma negativa. Houve, no país, muita tragédia familiar. Pessoas que perderam não só um ente querido, mas vários membros da família, amigos e colegas de trabalho”. Ela acrescenta que foi um ano de sofrimento que pode trazer consequências. “Cabe a cada um ressignificar esse momento. Nós não vamos sair desse período da mesma forma que entramos. A palavra de ordem é adaptação. Quem não conseguir se adaptar vai sucumbir, não só profissionalmente, mais também pessoalmente”.
Para ela, não existirá uma maneira de voltar ao cenário anterior à pandemia. “Nós passamos por uma experiência traumática e aprendemos muitas coisas. Haverá um novo normal, não uma retomada do que era. Resta a nós levarmos nossos aprendizados para essa normalidade que nos aguarda”.
Como a mente sente?
A psicóloga relata que um grupo de fatores pode sinalizar que a saúde mental e emocional não anda bem. “Insônia; apetite desregulado; dificuldade de lembrar fatos recentes e irritabilidade”.
Ela ressalta que a saúde mental e emocional são semelhantes, mas também apresentam diferenças. “Quando falo da saúde emocional, estou lidando com a autoestima e qualidade dos pensamentos. Ou seja, minhas emoções. Sabendo conviver com essa produção de pensamentos, lido melhor com as coisas do dia a dia”. Já a saúde mental, segundo a especialista, vai para o lado fisiológico. “Quando há desequilíbrio nesse campo, há também um descompasso da minha parte fisiológica e neurológica”.
Janeiro branco
O primeiro mês do ano é marcado pela campanha Janeiro Branco, criada e promovida por psicólogos com o propósito de convidar a população a discutir a importância do cuidado com a saúde mental em busca de mais felicidade e qualidade de vida. “Falamos desse tema em janeiro, pois é quando as pessoas estão planejando o ano e traçando suas metas”, diz Alessandra.
De acordo com ela, houve um consenso de que cuidar da saúde mental e emocional é tão importante quanto da física. “Elas estão atreladas e precisam caminhar juntas. Uma grande dificuldade é fazer com que a população tenha uma consciência e faça uma medicina preventiva para que não cheguem a uma forma aguda dentro dos seus problemas”.
A psicóloga adiciona que o brasileiro negligencia muito a saúde mental. “Muitos sequer reconhecem que estão adoecidos. Encaram a insônia e estado de nervosismo como consequência de uma vida corrida. Por vezes, esses indivíduos já estão dentro desses transtornos e, por uma questão cultural e histórica, demoram a buscar um auxílio”.
Alessandra diz que a pessoa deve olhar para si e procurar se entender. “Ter pensamentos positivos e realistas, além disso, fugir dos medos irracionais e planejar objetivos é uma das ferramentas que a gente pode usar para que não sejamos tão afetados”.