Home > Destaques > Entenda a desigualdade social no Brasil e suas consequências

Entenda a desigualdade social no Brasil e suas consequências

É bem perceptível a diferença entre as classes sociais. Enquanto uns tem muito e esbanjam dinheiro, outros vivem com o mínimo e não sabem se terão o que comer no dia seguinte. Isso porque a distribuição de riquezas é bem desigual e desencadeia uma série de reflexos na sociedade em geral. Para falar sobre o tema, o Edição do Brasil conversou com Igor Macedo de Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais.

Quais são as razões da desigualdade social no Brasil?
Existe um conjunto de fatores que causam o problema. Um dos principais é a questão da falta de oportunidades iguais. Não é possível ter ascensão social se temos classes que possuem mais acesso à educação de qualidade, moradia, saneamento básico e serviços públicos essenciais, enquanto outras não têm. Isso faz com que a desigualdade social seja perpetuada. Quando as pessoas têm oportunidades diferentes reflete na renda.
No Brasil, quando analisamos pelo G20, grupo de países considerados as principais economias do mundo, percebemos que as de classe mais baixa ganham um salário basicamente voltado para sua própria subsistência. O valor é pequeno, pois a educação e a escolaridade também foram inferiores. Ao observarmos a classe média, sua ascensão social acontece por um salário maior, sendo assim conseguem poupar, além de uma valorização imobiliária ao longo do tempo. Já a classe mais alta não tem apenas um salário bem maior como também uma participação societária, aplicações financeiras, acessos a mercados internacionais. Isso faz com que a própria posse desses itens os tornem mais ricos no decorrer dos anos.
Uma análise dos últimos 30 anos comparando a inflação dentro do G20 revela que o rendimento médio das famílias foi de 0,6% para a classe média e 6,2% para a classe alta. Isso significa que em três décadas o déficit de desigualdade é de mais de 60%.

Existe alguma relação com o sistema capitalista?
O trabalho da economia política neste ano é, sem dúvida, entender tal fenômeno, que é natural e intrínseco do capitalismo, e adotar políticas que sejam capazes de aliviar esses efeitos. Ele é um sistema que funciona e foi o modelo de produção que mais diminuiu a pobreza na humanidade; todavia, ao longo da história, surgiram problemas como as crises financeiras, os monopólios e os oligopólios dentre outras dificuldades que foram ajustadas dentro do sistema por meio de novas teorias e políticas públicas inovadoras. O grande conflito é a distribuição de riquezas que gera inúmeras adversidades sociais.

Por que a distribuição de renda é desigual?
No passado, a ideia era que a sociedade voltada para o ensino básico ou técnico geraria renda suficiente para as pessoas sobreviverem. Já no século XXI, onde o mundo é mecanizado e automatizado, cada vez mais o aumento de renda das famílias se dá pela geração de novas tecnologias e a capacidade de desenvolvimento. Isso é um problema grande no Brasil, pois poucas são as empresas e pessoas que possuem alto nível de especialização. Temos uma força maior de tecnologia, o que faz com que não tenhamos mais sindicatos atuantes e eles também não tem robustez para reivindicar melhores salários. A partir daí, a possibilidade de aumento fica diminuída. A equação é simples: quanto maior a disparidade de renda, maior a desigualdade social.

A pandemia da COVID-19 contribuiu para o aumento da desigualdade?
Inicialmente sim, mas logo depois foram tomadas algumas medidas para combater o problema. Tivemos uma ingestão maciça de recursos para uma grande parcela da sociedade. No entanto, uma preocupação é se esses benefícios não forem continuados.

O que poderia ser feito para resolver o problema?
Acho válido que as grandes empresas globais poderiam ser taxadas, pois, muitas vezes, não pagam os impostos reais que deveriam. Sou crítico a fazer taxação a bens de luxo e grandes fortunas, pois isso tira a riqueza do país. Os investidores saem em busca de outras oportunidades. A melhor maneira para a situação é criar elementos que deem mais renda direta para a população. Por exemplo, incorporar o FGTS ao salário. Também se houver a possibilidade de capitalizar os próprios recursos da Previdência por meio do mercado privado, a desigualdade tende a diminuir, visto que em longo tempo, a renda no futuro será maior. A ideia é que essa desigualdade diminua ou pelo menos pare de crescer com o decorrer dos anos.

A desigualdade social resulta em outras dificuldades?
Entre os reflexos está o aumento da violência, gastos exacerbados com saúde, falta de educação de qualidade, problemas de trânsito que podem gerar mais custos para o governo, além de ineficiência do setor público. Não há dúvidas que quanto mais desigual o Estado, piores são os problemas para se resolver e mais caro fica para o contribuinte.

Você acredita que os brasileiros têm consciência dessa desigualdade?
Eles possuem essa consciência e existe uma visão bem clara sobre a desigualdade no país, mas, muitas vezes, não sabem onde estão alocados. Pensam que estão em uma situação de classe média, quando, na verdade, já estão no topo da pirâmide social ou são pobres e imaginam que estão em uma classe social superior.

Existe alguma ação feita em outros países que pode servir de modelo para o Brasil?

Dentro do Brasil mesmo uma das possibilidades em discussão é a criação de uma renda básica universal para grande parte da população. Aqueles ajudados por programas como Bolsa Família e Auxílio Emergencial. Está na hora de acabarmos com a extrema pobreza e diminuir a desigualdade social.