Em julho deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um dado inédito: 8,9 milhões de brasileiros estavam trabalhando de casa devido à pandemia da COVID-19. Assim como no Brasil, países do mundo inteiro aderiram à modalidade para evitar a disseminação do novo coronavírus e a flexibilidade agradou. De acordo com uma pesquisa da Cisco Systems, cerca de 9 em cada 10 trabalhadores querem poder escolher se trabalham em casa ou no escritório quando as restrições forem suavizadas e terem mais autonomia sobre seus horários.
O home office já existia na pré-pandemia, mas a crise sanitária alterou rapidamente essa percepção. Segundo uma outra pesquisa, a “The Future of Remote Work 2020”, com mais de 300 empresas espalhadas em 31 países, incluindo o Brasil, 53% das organizações têm, atualmente, políticas de trabalho remoto e, entre aquelas que ainda não adotaram, 55% planejam implementar até o final de 2020. Além disso, 51% das empresas já finalizaram ou estão em processo de viabilizar arranjos de trabalho fora do ambiente da empresa. Apenas 19% não preveem a adoção do home office como nova norma.
Na análise de Tatiana Fernandes, sócia da PwC Brasil, responsável pela pesquisa, e líder de Recursos Humanos, as incertezas do home office deixaram de existir. “A grande maioria dos empresários enxerga a modalidade como muito positiva. Ao trazer benefícios para os funcionários, como a melhoria da qualidade de vida em função da redução no tempo de deslocamento, por exemplo, o trabalho de casa, consequentemente, possibilita uma maior eficácia na retenção e atração de talentos. Inclusive, a pesquisa apontou que as três principais prioridades para permitir esquemas de trabalho remoto são: saúde e segurança de seus funcionários (70%), melhorar a experiência do colaborador (65%) e atrair/reter talentos-chave (60%)”, afirma.
Para a executiva, o futuro do home-office é híbrido e independente do tamanho da empresa. “A necessidade de se relacionar é inerente ao ser humano e, por isso, acredito que um modelo híbrido possa se firmar no pós- -pandemia. Talvez com a ida ao escritório uma ou duas vezes por semana, o que permitirá ao empregado estar próximo da equipe e vivenciar a cultura da empresa. Nosso levantamento mostra essa tendência do esquema híbrido: a maioria das companhias (67%) prevê que os funcionários tenham acesso a um escritório, sendo que 46% não exigem que eles compareçam ao local e 22% exigem essa presença, caracterizando um modelo híbrido de trabalho presencial e home office. Outros 20% das empresas preveem que os funcionários remotos não precisem ter acesso a um escritório”, acrescenta.
Fernanda Della Monica, head comercial e sócia de uma empresa especializada em assessoria de investimentos e que administra outros empreendimentos, também vê o home office com bons olhos. “Tivemos que mudar não só a questão estrutural, mas também a forma do pensamento. Na nossa empresa, o que percebemos é que ganhamos escala. À medida que podemos ter profissionais de outras regiões, e não necessariamente de Belo Horizonte. O trabalhador também ganhou flexibilidade de atender o cliente da sua própria casa. Também economizamos com a estrutura física. Hoje, não tenho mais limitação de quantos funcionários posso contratar para a empresa. Por outro lado, também posso ter clientes no Brasil inteiro. Apesar de que o atendimento on-line já existia, antes da pandemia havia uma parte resistência, mas hoje 100% das pessoas têm aderência”, avalia.
A investidora reforça que, em outros países, o trabalho remoto já é uma realidade consolidada. “Quando falamos de mundo, o home office já funciona há muitos anos em países desenvolvidos. Os empresários lá parecem ter uma cabeça diferente dos brasileiros, mas isso está se transformando. O profissional que entrega resultados tem mais é que ter uma vida flexível mesmo para que ele possa cuidar da parte pessoal, mas para modificar essa mentalidade é preciso mudar a cultura. Tudo que aderimos como um hábito na nossa vida, um dia foi novidade”, defende.
Sobre o tema, a advogada de direito trabalhista Helen Garcia ressalta que o empresário precisa de uma estratégia para as alterações financeiras. “É imprescindível que antes de optar pela implantação do home office fixo, a empresa consulte uma banca de advogados especializada, pois a modalidade pode ser uma ferramenta formidável se implantada com estratégia e segurança, sendo fundamental uma análise mais aprofundada para a tomada de decisão”, aconselha.