“Agora o feminismo foi longe demais” é um meme da internet, normalmente, usado em situações que exemplificam as diversas formas de independência feminina. Ou pelo menos, costumava ser. Isso porque segundo um relatório divulgado pela organização britânica Hope Not Hate, metade dos meninos e homens entre 16 e 24 anos, não veem o termo como uma piada e, de fato, acredita que o feminismo “foi longe demais e torna mais difícil a eles alcançar sucesso”.
O estudo “Jovens em tempos de COVID-19” ouviu mais de 2 mil pessoas entre 16 e 24 anos, a denominada “geração Z”, sobre uma variedade de assuntos, incluindo a pressão sentida por esses jovens sobre seu futuro, a falta de representação política, racismo, LGBTfobia e misoginia. Para isso, o levantamento separou os jovens em tribos de acordo com suas visões de mundo: apáticos, céticos, aspirantes a liberais, progressistas, liberais convictos, ativistas de esquerda e conservadores reacionários.
No geral, quando perguntados sobre a frase “o feminismo foi longe demais e torna mais difícil para os homens terem sucesso”, mais jovens concordaram (36%) do que discordaram (35%) da afirmação. Porém, entre os homens, 50% aprovaram, enquanto apenas 21% discordaram. Já no grupo de conservadores reacionários, 75% sentem que o feminismo está impedindo os homens de algo, enquanto apenas 3% do grupo ativistas de esquerda sentem o mesmo.
Outros dados coletados pelo estudo é de que quase um em cada cinco jovens (18%) tem opiniões negativas sobre feministas e 14% veem ativistas anti-aborto positivamente.
Para a diretora da Coligação Fim da Violência Contra as Mulheres, Sarah Green, é preciso desafiar aqueles que defendem a ideia de soma-zero (jogo em que o ganho de um jogador representa necessariamente a perda para o outro jogador) quando o assunto é igualdade de gênero. “Muitas das descobertas deste relatório são profundamente preocupantes. Principalmente, a de homens jovens com atitudes racistas, visões sexistas e misóginas. É muito triste que, após décadas de ativismo antirracista e feminista, mudanças sociais e políticas, uma proporção significativa de homens jovens sintam que algo lhes foi tirado e que o fato de mulheres e minorias étnicas terem conquistado mais liberdade e igualdade signifique que eles perderam algo. Devemos desafiar aqueles que impulsionam essa ideia de soma-zero sobre poder e igualdade de frente, porque quando esse sentimento de frustração e direito à superioridade não é enfrentado, os danos causados a vida das mulheres são grandes”, afirma.
Geração coronavírus
Além das respostas sobre feminismo, igualdade e direitos reprodutivos, a pesquisa também descobriu que 55% dos jovens acreditam que a pandemia de COVID-19 limitou suas perspectivas futuras e 41% têm uma ideia geral pessimista sobre o futuro.
Apenas metade pensa que dentro de 5 anos terá um bom emprego e um lugar digno para viver. A ansiedade em relação ao futuro também está dividindo gerações: a maioria deles (67%) concorda que sua geração pagará o preço por uma pandemia que afetou principalmente os idosos.
O relatório destaca a necessidade de ação imediata para lidar com as preocupações dos jovens, que estão sob pressão e temerosos a respeito de um futuro quando a COVID-19 acabar. “Muitos já se sentem inseguros e alguns procuram respostas na desconfiança, na culpa e no desengajamento político. Esses sentimentos serão ampliados no contexto pós-pandêmico, a menos que uma ação urgente e decisiva seja tomada. Há uma necessidade clara de um plano de recuperação para apoiar os jovens durante a crise sanitária e as consequências em longo prazo que isso terá”, destaca o documento.