O Monitoramento COVID Esgotos, projeto que fiscaliza a presença do novo coronavírus no esgoto de Belo Horizonte e Contagem, detectou, pela primeira vez em nove semanas, o novo coronavírus em 100% das amostras dos sistemas de esgotamento sanitário das bacias do Arrudas e do Onça. O monitoramento é conduzido pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de Tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A ideia é que a monitoração dos esgotos funcione como uma ferramenta de controle epidemiológico, já que o vírus pode ser detectado nas fezes dos infectados. Os levantamentos anteriores já mostravam crescimento de amostras positivas do novo coronavírus nas redes de saneamento. De 71%, a presença do vírus passou para 86% nas coletas realizadas semanas antes, agora esse número saltou para 100%.
Com base nesses dados, os pesquisadores concluíram que a estimativa é que de 50 mil pessoas estão infectadas pelo novo coronavírus na capital, conforme carga viral identificada nas amostras coletadas entre 8 e 12 de junho. Este índice equivale a aproximadamente 2,5% de toda a população interligada aos sistemas de esgotamento e tratamento das bacias do Arrudas e do Onça.
Na semana de coleta anterior, estimava-se que mais de 20 mil pessoas estavam contaminadas nas regiões pesquisadas. Com base nesses dados, segundo o estudo, é possível dizer que há pelo menos 10 vezes mais infectados em Belo Horizonte do que indicam os números oficiais. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a capital mineira tem cerca 4.660 casos confirmados de COVID-19.
Um dos pesquisadores responsáveis pelo levantamento, Carlos Chernicharo explica o porquê da monitoração a partir do esgoto. “Todas as pessoas eliminam fezes e urina diariamente. Quando utilizamos o vaso sanitário, excretamos informações valiosas sobre nossa saúde por meio de microorganismos e metabólicos químicos. A testagem do esgoto possibilita o diagnóstico do conjunto de indivíduos de uma comunidade”, afirma.
De acordo com César Mota, também responsável pela pesquisa, não há evidências, até o momento, de transmissão feco-oral de COVID-19. Porém, há preocupação da transmissão feco-nasal, principalmente, aos mais expostos, como os trabalhadores que lidam diretamente com os esgotos.
“Os resultados e as estimativas com base no monitoramento do esgoto indicam tendência de aumento expressivo da população infectada pelo novo coronavírus em Belo Horizonte. Portanto, medidas de prevenção e controle para evitar a disseminação do vírus deveriam ser intensificadas”, conclui o estudo.