“Quarentenado, logo entediado”. A frase, talvez, resuma o sentimento de grande parte da população mundial ao se confinar como medida de contenção ao novo coronavírus. Fruto desse novo modo de vida, uma categoria que tem surpreendido é a de brinquedos e jogos. Segundo apontou uma pesquisa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), com a empresa Konduto, esses produtos tiveram aumento de 434,70% nas vendas durante a pandemia de COVID-19.
Ainda que o estudo não apresente quais são os brinquedos e jogos mais vendidos on-line, para Maurício Salvador, presidente da ABComm, a alta do setor acontece em razão das crianças estarem mais em casa. “A categoria brinquedos foi a que mais surpreendeu na primeira semana após o confinamento por conta da pandemia, com um crescimento de 434% em volume financeiro. Se considerarmos o acumulado desde o início em 15 de março até 09 de maio, o aumento é de 386%, o que é bastante significativo. Isso se dá em função, principalmente, do fechamento das escolas, ou seja, as crianças estão em casa e precisam de distrações, o que levou os pais a irem atrás de brinquedos para mantê-las distraídas e se dedicarem ao trabalho home office.
Apesar da procura pelos passatempos ter aumentado, o tíquete médio caiu. Segundo o levantamento, desde a segunda quinzena de março até o início de maio, o valor médio das compras variou negativamente de R$ 239,18 para R$ 152,58.
Mas não são apenas as crianças que consomem brinquedos. Quarentenada com a mãe desde o início da pandemia, a gestora de compras Joana Oliveira tem investido na montagem de quebra-cabeças durante esse período. “Mesmo trabalhando home office, ainda sobra bastante tempo livre. Começamos com um de 500 peças e, agora, compramos um de 5 mil. É muita peça!”, ri. Além de hobby, ela considera a atividade uma forma de se desconectar do duro noticiário. “Também é uma maneira de se desligar e distrair das notícias porque, às vezes, levamos horas montando”, diz
Diversão para as famílias e cifrões para o comércio eletrônico. Segundo Salvador, a tendência de compras on-line acontece em diversos segmentos. “Não só para o mercado de brinquedos e jogos, mas no e-commerce como um todo, com relação ao aumento repentino no número de pedidos por sites nesse período de pandemia, as lojas virtuais tecnicamente estão preparadas para grandes acréscimos sazonais, especialmente em duas datas muito importantes no calendário do Brasil, que são a Black Friday e o Natal. Na Black Friday, as lojas chegam a vender em um dia o volume de vendas do mês inteiro, e o mesmo acontece com as transportadoras, estão preparadas para aumentos em grande volume, mas claro, desde que comunicadas com antecedência, como é o caso da Black Friday. As empresas começam a se preparar em setembro para um evento que será em novembro. A pandemia pegou todo mundo de surpresa, mas a adaptação foi rápida, o que aconteceu foi que muitas lojas virtuais em função das transportadoras, tiveram que alargar o prazo de entrega e melhorar a logística”, avalia o presidente da associação.
Para Salvador, o apetite dos brasileiros pelo comércio eletrônico não será temporário. “Toda essa confusão vai deixar um legado: novos consumidores e novas lojas virtuais. A ABComm estima que 1 milhão de brasileiros fizeram, pela primeira vez, uma compra na internet nessas últimas 5 semanas. Isso em função de não terem outra opção, a não ser adquirir seus produtos e serviços de forma virtual. Esse número de 1 milhão é apenas de produtos, pois o de serviços é ainda maior. São 4 milhões de pessoas que usaram, pela primeira vez, alguma plataforma de delivery ou algo relacionado a serviços on-line nesses tempos de isolamento. A grande quantidade de novos consumidores vai permanecer. São pessoas que foram fidelizadas pelo canal, tiveram boas experiências e que vão continuar comprando mesmo passado esse período de confinamento. Isso porque o consumidor tem uma percepção de que comprar pela internet é sempre mais barato”, acredita.