As rápidas adaptações que a população teve que fazer para tentar conter a propagação do novo coronavírus tem gerado estresse. O cenário restritivo, no qual a liberdade de ir e vir está limitada pelo isolamento social, somado às incertezas de diversos âmbitos como saúde, trabalho, convívio familiar e social trazem instabilidade e angústia, o que potencializa a ansiedade. E todo esse estresse pode gerar um comportamento compulsivo nas pessoas.
Segundo a psicóloga Mariane Moraes, não há um porque definido que gere a compulsão, mas é possível dizer que ela tenha relação com uma pré-disposição e vulnerabilidade, seja por elementos familiares (maus hábitos aprendidos ou exigidos) ou atitudes mal elaboradas de enfrentamento da ansiedade e/ou angústia. “Isso pode acarretar consequências psicológicas e físicas. Por isso, é importante estabelecer uma rotina saudável, principalmente, durante o período de quarentena”
Ela afirma que a compulsão que tem como objetivo compensar um desconforto psíquico. “Fatores já existentes como dietas restritivas, traumas e problemas emocionais, além de insatisfação com o próprio corpo e forte carga de estresse podem desencadear esse comportamento”
A especialista acrescenta que cada compulsão apresenta seus indícios, mas que, de um modo geral, é possível saber que o comportamento está além do normal quando gera culpa e angústia. “No caso de compras excessivas, há um comprometimento financeiro: a pessoa acaba gastando mais do que pode, fica endividada e com dificuldades em regularizar a situação. Já em relação à compulsão alimentar, há um excesso de ingestão de alimentos. Ou seja, o indivíduo come sem estar com fome e sem nem prestar atenção no que está ingerindo”.
Com o isolamento social, inúmeras empresas estão facilitando a compra on-line. O que, para a especialista, pode ser um facilitador para a compulsão. “Por estarem confinadas e com tempo disponível, as pessoas ficam mais suscetíveis a ceder aos excessos oriundos da necessidade compensatória”.
Mariane diz que estabelecer uma rotina é uma tática para não chegar ao nível de compulsão. “Incluir atividades físicas, meditação e encontros on-line com pessoas que sejam de afeto como familiares e amigos é uma saída”. Além disso, investir na saúde mental é a chave para este momento. “É importante procurar apoio de um profissional de psicologia para ajudar a pessoa a elaborar toda essa situação na qual estamos inseridos”.
Planejar o dia e criar listas de atividades tem sido essencial para a auxiliar financeiro Tamires Silva. Trabalhando de casa, ela percebeu, em poucos dias, que seu comportamento estava mudando, principalmente em relação à comida. “Os entregadores de aplicativo devem ter decorado meu endereço de tanta comida que pedi”
Quando ela começou a sentir necessidade de ficar checando promoções em sites, intuiu que algo estava errado. “Parece que para eu desligar do mundo precisava ficar vendo produtos. Itens que nunca imaginei comprar e, que no fundo, não necessitava. Comentei isso com uma amiga e ela disse que o estresse poderia estar me deixando mais ansiosa”
Em um grupo nas redes sociais, Tamires leu a mensagem de uma psicóloga falando sobre o assunto e decidiu procurá-la para uma terapia on-line. “Estava escondendo o medo da pandemia nas minhas atitudes desesperadas. Hoje, após a terceira sessão, entendo que é normal e que está tudo bem temer o futuro”
Orientada pela psicóloga, Tamires, além de trabalhar de casa, organiza o horário de praticar atividade física, ver filmes, ler e buscar formas de se distrair.