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Desemprego no Brasil é maior entre pobres, mulheres, jovens e quem possui ensino médio

O Brasil possui, atualmente e sem contar com os dados que ainda não estão disponíveis sobre os impactos do coronavírus na economia, 12 milhões de desempregados e o perfil de pessoas quem não possui um trabalho formal é bem característico: pessoas mais pobres, mulheres, jovens e que possuem o ensino médio. Essa é a constatação feita pela pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em convênio com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Seis em cada dez desempregados são mulheres (61%) e a média de idade é de 33 anos, sendo que a maior parte corresponde aos jovens de 18 a 24 anos (34%) e à faixa etária de 25 a 34 anos (24%).

Considerando o nível de renda, verifica-se que nove em cada dez brasileiros sem ocupação pertencem às classes C, D e E (95%), enquanto apenas 5% estão nas classes A e B. Já em relação à escolaridade, 59% possuem entre o ensino médio completo e ensino superior incompleto, 31% têm o 2º grau incompleto e 10% o ensino superior completo. Apenas 8% falam outro idioma. Tendo em vista o estado civil, 55% são solteiros e 26% correspondem aos casados; pouco mais da metade dos entrevistados possui filhos (52%).

Daniel Sakamoto, gerente de projetos da CNDL, diz que esses dados mostram que o impacto do desemprego é justamente nos setores mais carentes da sociedade. “Essas pessoas acabam recorrendo ao trabalho informal, seja por não terem oportunidades ou por falta de qualificação, para conseguir algum tipo de renda”.

O estudo mostra que a maioria dos desempregados brasileiros não investe, atualmente, no aprimoramento pessoal. 78% não estão fazendo nenhum tipo de curso de capacitação profissional para conseguir oportunidades de trabalho melhores. Em contrapartida, 18% estão fazendo, sendo 12% cursos gratuitos e 6% cursos pagos. “Os governos e a iniciativa privada devem fazer uma análise setorial para investir em cursos preparatórios atualizados, e que estejam em sintonia com as novas necessidades do universo profissional. Precisamos fazer com que essas pessoas se tornem profissionais mais interessantes para as demandas do mercado”.

Um ano sem trabalho
Outro dado do levantamento mostra que os desempregados estão, em média, há um ano e 3 meses sem ocupação formal. E que essa demora em se recolocar no mercado de trabalho tem feito com que essas pessoas busquem outras formas de sustento, como o trabalho informal: quatro em cada dez têm recorrido ao trabalho temporário para se sustentar (39%), principalmente com serviços gerais (19%), com revenda de produtos (14%) e com venda de comidas (13%).

Além dos trabalhos informais, 30% admitem que ao menos parte de suas despesas estão sendo pagas por pais, filhos, amigos ou outros familiares. Também tem os que usam o seguro-desemprego (8%) e /ou acerto recebido da empresa em que trabalhavam (7%).

Sakamoto diz que é preocupante a média de tempo que as pessoas ficam fora do mercado formal. “Levando em consideração que o seguro-desemprego dura apenas 6 meses e que somente 15% possuem reserva financeira para se manter até conseguirem um novo emprego, essas pessoas precisam recorrer a alternativas. O aumento da informalidade também está relacionado à chamada ‘gig economy’, ou ‘economia dos bicos’ – aquela que diz respeito aos motoristas e entregadores por aplicativos, por exemplo. Apesar de terem o dinheiro, esses trabalhadores não têm direitos assegurados e/ou vínculo empregatício”.

Uma das pessoas que teve que recorrer aos aplicativos de serviço foi o engenheiro mecânico Cristiano Moreira, 28 anos. Apesar de saber falar dois idiomas e ter feito intercâmbio nos EUA, ele não conseguiu arrumar um emprego formal e, por isso, está fazendo entregas por um aplicativo de restaurante. “Quando entrei na faculdade, a primeira coisa que me falaram é que o piso salarial do engenheiro era mais de R$ 6 mil, então acreditei que, quando me formasse, receberia isso”.

Moreira diz que está decepcionado com o emprego. “No começo do ano, tive dengue e, apesar de não estar bem, precisei trabalhar, pois, se eu não rodar, não recebo. Sabe o que mais me deixa chateado? Apesar de todas as minhas qualificações, não vejo possibilidade de voltar a trabalhar de carteira assinada no futuro próximo”, finaliza.