Acostumado a recorrer à calma para ensinar seus alunos, o professor de música e piano aposentado Oscar Tibúrcio, de 77 anos, não encontrava alguém com a mesma tranquilidade para ensiná-lo a usar seu smartphone. Foi só esse ano, ao participar da oficina de Inclusão Digital do projeto Hábil Idade, em Contagem, que o professor sentou na cadeira de aluno e tem tirado todas as suas dúvidas sobre como navegar na internet.
“O professor é bastante didático e faz questão de não passar para frente antes que os passos anteriores estejam completamente esclarecidos. Isso é ótimo porque agora tenho a sensação de que realmente estou nas mãos de um professor de verdade!”, comemora Tibúrcio.
De acordo com Nilson Rocha, mestre em educação e tecnologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e educador responsável pelas oficinas, em quatro semanas, os idosos puderam compreender o que é a tecnologia, como funciona um computador e suas possibilidades. Em sua turma, o aluno mais jovem tem 60 anos e a mais velha 84. “A ideia é que eles criem e-mails, espaços em nuvens e, a partir daí, possam ter autonomia para navegar”, pontuou Rocha, destacando que, na última etapa da oficina, os idosos poderão criar um aplicativo.
Segundo o professor, no módulo de inclusão digital, o idoso aprende desde o histórico do início da computação até o acesso aos smartphones. “Nós emprestamos notebooks, computadores e telefones para a prática durante as aulas”, explica. Diferente do que se possa imaginar, as maiores dificuldades dos alunos não estão relacionadas diretamente aos dispositivos. “Os principais obstáculos são os termos em inglês, o tamanho das letras e, em alguns casos, os idosos não são letrados”.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), realizada em 2017 sobre Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), o acesso à internet está presente em 52 milhões de residências brasileiras. Entretanto, dos 17,6 milhões de domicílios em que não havia utilização da internet, um dos motivos destacados é o fato de nenhum morador saber usar a internet (22%). Sobre as faixas etárias, enquanto o grupo de 20 a 24 anos representava 88,4% dos usuários, o menor percentual entre os usuários com 60 anos ou mais (31,1%).
De acordo com Rafael Aquino, um dos idealizadores do projeto, a ideia é englobar o máximo de idosos possíveis, desvendando histórias, desenvolvendo talentos e valorizando os moradores da cidade. Ele salienta que o projeto teve como base o novo perfil do idoso brasileiro, que está mais ativo e tem acesso às tecnologias atuais. “A população brasileira vem envelhecendo nos últimos anos acima da média mundial e identificamos poucos projetos que atendem esse perfil. Os comportamentos mudaram e, hoje, ele está com a vida mais ativa, por exemplo, no mercado de trabalho. E, claro, o idoso não está isento das modernidades e do universo da tecnologia”, afirma.
As oficinas de Inclusão Digital, voltadas para pessoas a partir dos 60 anos e residentes em Contagem, terão um total de 16 encontros. As aulas fazem parte das ações do Projeto Hábil Idade que, durante um ano, desenvolverá diferentes atividades no município metropolitano e capacitará mais de 300 idosos. Após a oficina, a Associação Move Cultura ofertará o curso de fotografia e vídeo, previsto para o início do próximo ano.