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Desemparedamento da infância: contato das crianças com a natureza é fundamental

Neste mundo digital é bastante comum ver crianças gastarem horas do seu dia conectadas. Uma pesquisa feita pela TIC Kids Online aponta que 80% da população entre 9 e 17 anos têm acesso a internet. Os dados mostram que destes, 44% acessam a rede somente pelo telefone móvel e ainda que 21% utilizam o aparelho para se conectar mais de uma vez por dia.

Foi pensando em desconectar os pequenos que surgiu o movimento “desemparedamento da infância”. A ideia visa propor que as crianças passem mais tempo ao ar livre o que, para a psicopedagoga Luciana Brites, é de suma importância. “O entretenimento está, cada vez mais, dentro de casa. O acesso à tecnologia e a alguns jogos fazem com que elas fiquem isoladas e, com isso, presas em suas realidades”.

A profissional diz que isso pode interferir na sensibilidade da criança no futuro. “Ela cria uma falta de empatia com o outro. Vivemos uma fase na qual nunca tivemos tão ligados, mas também tão separados. Com isso, as crianças deixam de brincar, de se divertir e exercitar aspectos fundamentais para seu desenvolvimento neuropsicomotor”.

Ela explica a relevância que o contato com a natureza tem para o desenvolvimento infantil. “Essa ligação com o meio ambiente estimula o pequeno a correr, pular e mexer. Por meio disso, ele desenvolve habilidades motoras, aprende a lidar com desafios, a ser resiliente e a ter empatia, pontos essenciais para seu desenvolvimento social”.

Os efeitos positivos podem ser alcançados por meio de brincadeiras simples ao ar livre. “O pega-pega mesmo traz muitos benefícios ao corpo da criança pelos movimentos. Pular corda fortalece os membros inferiores e auxilia na sua locomoção. Essas atividades também ajudam a enriquecer as funções musculares. Uma dica é encontrar objetos que sirvam de complemento para as brincadeiras: bolas, cordas e etc”.

De quem é a culpa?
Para a psicopedagoga, a ausência de área verde em grandes centros urbanos pode ser um dos motivos para a falta de contato das crianças com a natureza. Mas, na maioria das vezes, falta atitude dos pais. “Eles não querem levar os filhos para atividades fora de casa. No entanto, é preciso que os responsáveis permitam esses momentos às crianças, seja no quintal, no playground ou, até mesmo, em alguma praça próxima”.

A cerimonialista Juliana Ventura percebeu sua parcela de culpa ao longo do tempo quando seu filho Pietro, 5, estava tendo dificuldades para se concentrar devido ao vício no celular. “Meu escritório é em casa, então fico boa parte do tempo no computador. Tento organizar minha rotina, porém deixá-lo assistindo um filme ou jogando um jogo no celular, confesso, era mais prático”.

Por um tempo, Juliana via a internet como uma aliada, mas depois começou a notar uma mudança no comportamento do filho. “Achava que era educacional, umas músicas bonitinhas que ensinam, entretanto, depois fui percebendo que não adiantava ele ficar só em casa parado. Percebi que o Pietro estava tendo dificuldades de abrir mão do aparelho. Sempre que o chamava para alguma coisa ele dizia ‘só mais um vídeo mamãe’, e enrolava”.

Hora do banho, de comer e de dormir. Tudo começou a virar uma grande dificuldade. “E percebi que não estava nele. Às vezes, estava cochilando, mas não largava o celular de jeito nenhum, como se aquilo fosse uma obrigação. O Levei até a pediatra e ela disse que eu e meu marido teríamos que fazer a nossa parte. Para mim, que fico em casa, era mais fácil. Comecei a tirar algumas horas do dia para brincar com ele”.

No começo, foi difícil. “Nada parecia interessar. Mas usei da criatividade e, aos poucos, ele foi se desconectando da internet e se conectando comigo. Hoje temos uma rotina de irmos a um parquinho todo sábado de manhã e, em casa, tentamos deixá-lo fora do celular. Ele está mais alegre, mais ativo e animado. Dorme e come melhor e está mais falante”.

Organizando a rotina
Luciana acrescenta que é essencial que os pais se planejem para dar a atenção que os filhos precisam a fim de que eles se interessem pelo contato com a natureza. “É importante deixar um tempo livre na agenda, não precisa ser muito, mas que seja um momento reservado às crianças. A partir daí, é necessário o estímulo do filho para que ele curta o meio ambiente”.

A presença é essencial. “Se a vida estiver corrida, é melhor pensar que a qualidade do tempo livre do que a quantidade”.