Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontam que o Brasil descarta, por ano, quase 37 milhões de toneladas de lixo orgânico. Os rejeitos são, basicamente, restos de alimentos e compõem quase 50% de todo o lixo recolhido. Estima-se que, cada brasileiro, jogue fora mais de 41 quilos de comida anualmente.
O país ocupa a 10ª posição no ranking de maior desperdício. Um estudo feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) assinalou que 19 milhões de pessoas poderiam ser alimentadas com a quantidade de comida que é desperdiçada. O número é maior do que o de brasileiros que passam fome: 13 milhões.
Entre os alimentos mais desperdiçados estão o arroz (22%), carnes (20%), feijão (16%) e frango (15%). Para a chefe de cozinha Michelle Pires, um dos motivos do desperdício é o uso incorreto de cascas, folhas e sementes. “Sem contar a comida descartada depois de pronta. Devemos refletir a relação estabelecida com o ambiente e com os recursos que extraímos dele para sobrevivermos. Se fossem bem utilizados, não seria necessário usar substâncias químicas para aumentar a produção”.
Para ela, falta planejamento no dia a dia do brasileiro. “Pensar no cardápio da semana e fazer uma lista do que irá precisar é um início. Isso evita a compra por impulso e reduz gastos e desperdício. Preferir produtos regionais e da estação também é uma boa alternativa. Além de ter um alimento fresco à mesa, evita o consumo excessivo de industrializados. Feiras de produtores orgânicos é outra estratégia e, hoje, com o aumento da conscientização, é bem fácil de encontrar”.
Além disso, a conservação dos alimentos também pode ser uma aliada, afinal essa prática auxilia, inclusive, na preservação dos benefícios nutricionais. O nutrólogo Guilherme Mattos acrescenta que, atualmente, existem formas de armazenamento que ajudam nisso. “A geladeira é a principal delas. O que devemos fazer é higienizá-los antes de guardar em potes ou a vácuo”.
Ele adiciona que utilizar todas as partes do alimento é aproveitar ao máximo os nutrientes ofertados. “Eles podem apresentar concentrações diferentes de proteínas na casca, na polpa e etc. O ideal é explorar as opções”.
Por que não reaproveitamos?
Michelle observa que existe uma dificuldade em reaproveitar a comida. “Com a chegada da indústria dos alimentos e a proposta de facilitar a correria do dia a dia, as pessoas perderam o interesse pelo uso integral dos alimentos, sejam legumes, verduras ou até a sobra”.
Para a chefe, é preciso abusar da criatividade. “Sempre utilizar as sobras para criar pratos no dia seguinte. O alimento está ao nosso dispor, basta procurar como aproveitar, evitando o desperdício”.
Foi por meio de uma atividade proposta pela escola do filho, Pietro, que a maquiadora Emily Oliveira começou a refletir sobre o reaproveitamento. “De 15 em 15 dias, as crianças levam um lanche para ser partilhado em um piquenique. E a professora mandou um desafio aos pais: usar um alimento que seria jogado fora para fazer o prato. Eu não fazia ideia do que fazer, mas, fui na internet e achei várias receitas. Nesse dia o Pietro levou um bolinho de arroz que ficou uma delícia”, gaba-se.
Ela relata que o reaproveitamento virou um hábito. “Por curiosidade, comecei a explorar cada vez mais as receitas. Sei que ajuda o meio ambiente, mas senti, também, a diferença no bolso porque, automaticamente, a comida dura mais na mesa e a gente gasta menos com as compras do mês”.
Reaproveitando na prática:
- Alho-poró, talos de salsinha, cascas de cebola e cenoura podem ser usados para fazer caldo caseiro para o preparo de sopas, caldos e arroz.
- A abóbora pode ser 100% reaproveitada. Suas sementes e cascas resultam em um saboroso snack (chips).
- As cascas da laranja e do limão podem ser usadas para fazer chás e temperos.
- As cascas da batata também podem ser reaproveitada e virar um delicioso aperitivo.
- As cascas do melão e da melancia podem virar um delicioso sal junto com especiarias.
- As folhas da beterraba podem fazer parte da sua salada de folhas.
- Os talos da couve viram suco ou o crocante da farofa.