À primeira vista, podem parecer surpreendentes os dois sucessivos saltos nas vendas de veículos novos no Brasil, diante de uma situação econômica generalizadamente negativa demonstrada, inclusive, pela perspectiva de um Produto Interno Bruto (PIB) negativo neste primeiro semestre. Em maio, em todo o país, as vendas de automóveis, veículos comerciais leves, caminhões e ônibus novos cresceu 21,6% em relação a igual mês de 2018 e 5,83% na comparação com abril. E no semestre encerrado em junho, o número de emplacamentos de veículos – aí consideradas apenas as estatísticas de Minas Gerais – deu um salto de quase 35% na comparação com igual período do ano anterior.
Numa análise mais apurada, no entanto, percebe-se que esses números não eram tão imprevisíveis, porque dão sequência a resultados positivos obtidos já no ano passado, em que houve expansão de pouco mais de 10% nas vendas – índice bem menos expressivo, é verdade, mas alcançados depois de um exercício, o de 2017, em que houve retração. Mas são indicadores de que há um certo otimismo no setor produtivo, considerado como um todo, pois foi no segmento de transportes rodoviários – caminhões e ônibus – em que se verificou o maior avanço: um incremento de quase 69% nas vendas.
Paralelamente, há nítidos sinais de que grandes investimentos produtivos estão a caminho. A FCA, por exemplo, já anunciou a inversão de R$ 8,5 bilhões numa nova fábrica de motores em sua planta de Betim. E, com isso, vários de seus fornecedores estão se preparando para expandir sua capacidade produtiva, o que exigirá aportes significativos de capital. A Usiminas também prevê realizar investimento de R$ 1 bilhão. A LD Celulose, joint-venture criada pela Duratex em associação como o grupo austríaco Lenzing, pretende aplicar US$ 1 bilhão na construção de uma linha industrial de celulose solúvel, no Triângulo Mineiro, que será a maior do mundo. E há ainda, no plano federal, possibilidades de inversões financeiras manifestadas por diversas corporações globais, entre elas Shell, ExxonMobil, Volkswagen, GM e Mercedes, de investir no Brasil algo em torno de R$ 30 bilhões, de acordo com matéria publicada no início deste ano pela revista Forbes.
Entretanto, a maior parte desses investimentos produtivos ainda está engatinhando no terreno das intenções – há um nítido “compasso de espera”, dada a emergência das diversas reformas que, em tramitação no Congresso Nacional (ou prestes a estar) e das quais depende a emergência de um ambiente de negócios positivo e, portanto, estimulante, sendo a primeira delas a da Previdência Social. Esta, depois de alguns titubeios na sua comunicação, que prejudicaram o seu entendimento, já é percebida quase de forma generalizada como essencial para que o Brasil volte a ser um destino confiável para se investir. Passou pela Comissão Especial da Câmara (cujo relatório ainda está sujeito a emendas) e caminha, agora, para sua discussão em Plenário.
Cabe ser ressaltado neste processo complexo e desgastante o papel do ministro da Economia, Paulo Guedes, de persuadir parlamentares arredios. Embora neste processo tenha se mostrado por diversas vezes agastado com os “recalcitrantes ideológicos” e tenha ameaçado “largar tudo”, o trabalho a que ele e sua equipe se dedicaram (hoje, com a missão quase cumprida, está mais quieto) é digno de nota. E isto, especialmente, por não ter obtido do presidente da República, em suas tímidas manifestações de apoio, o apoio enfático de que necessita.
Mas o fato é que a reforma está caminhando para a aprovação. Pronta e em pleno vigor, ela fará, certamente, com que os investidores, especialmente os estrangeiros, percebam no Brasil um novo ambiente para negócios e realizem efetivamente seus aportes num contexto em que os resultados alcançados nestes últimos dois meses pela indústria automotiva não sejam exceção, mas sim um exemplo do que pode estar por vir.
*Engenheiro, presidente da Federação de CVB-MG, presidente do Conselho do Instituto Sustentar e vice-presidente da Federaminas