Desde que participou de um treinamento, há 12 anos, em que o coordenador não permitia o uso de protetores auriculares, o policial civil José Geraldo Silva, 39, convive com um zumbido no ouvido esquerdo constante. “O colega do meu lado estava dando muitos tiros de fuzil. Foram vários disparos de um barulho intenso e agudo. Sai do treinamento com o zumbido, mas achei que era passageiro”, conta. O ruído descrito pelo policial é o da sensação temporária de chiado após frequentar um ambiente com o som muito alto, como uma boate. Mas os zunidos que azucrinam mais de 28 milhões de cabeças no Brasil podem ter diversas formas: som de apito, assobio, zumbido, chiado, rugido ou até mesmo grito. Pode parecer que vem apenas de um ouvido ou de ambos, de dentro da cabeça ou a distância, constante ou intermitente, estável ou pulsante.
Independentemente do tipo, a fonoaudióloga Luiza Diamantino esclarece que algo está errado. “Qualquer barulho que a pessoa esteja ouvindo, mas não sabe de onde está vindo, deve ser investigado. O zumbido é um sinal de que algo está errado e, na maioria dos casos, é sensorineural, ou seja, é devido à perda auditiva no nível da cóclea ou do nervo coclear. Porém, vale ressaltar, que o problema pode se originar em outros lugares, pode ser alguma alteração hormonal, depressão, pressão alta, alterações nos níveis de glicose e até de origem muscular. Nem mesmo um tumor pode ser descartado”, explica.
Segundo a fonoaudióloga, as principais causas da perda auditiva são: ruído alto, medicamentos que danificam os nervos auriculares, cera afetada, infecções, tumores vasculares e envelhecimento. Entretanto, maus hábitos alimentares também podem alterar a percepção da audição, como o excesso de gordura, cafeína e açúcar. “A cafeína é um neuroestimulador, às vezes, um barulho mínimo que a pessoa nem percebia em som ambiente, com o excesso da substância, essa percepção pode ser interferida. Ela dará mais atenção ao zumbido do que para os outros sons”, diz.
No caso de Silva foi constatado que houve perda de audição em sons agudos e micro sons. “O pior no meu dia a dia é quando vou em ambientes como igreja, festas e perto de crianças. Próximo de qualquer som agudo, preciso colocar meu protetor auricular. Levo ele para todos os lugares que vou, mas se um copo ou um prato cai e quebra, não tem como prever e meu ouvido fica todo afetado na hora”, conta.
Depois de alguns testes de audiometria e um tratamento frustrado, o policial convive com a condição, sem perspectiva de cura. “Meu médico sugeriu uma microcirurgia atrás da orelha e a implantação de um aparelho que emitiria ondas sonoras contrárias ao zumbido que eu tenho, uma anularia a outra. Mas esse tratamento só tinha em São Paulo, era mais caro e eu não pesquisei mais sobre isso”. O policial refere-se a Terapia de Habituação do ouvido, técnica que estimula o paciente a ignorar o zumbido ou, pelo menos, tomar conhecimento que outros sons estão presentes no ambiente.
De acordo com Luiza, outras estratégias podem ajudar a tornar o transtorno menos incômodo. “É fundamental ficar ciente que nenhuma abordagem específica funciona para todos. É possível que um mesmo paciente precise experimentar várias combinações de técnicas antes de encontrar uma que funcione efetivamente”, diz.
Para a fonoaudióloga, são poucas as pessoas que fazem uma triagem auditiva anual. “Temos costume de fazer um exame de vista todo ano, mas a audiometria não. E é fundamental fazer esse acompanhamento porque assim podemos perceber desde cedo as perdas leves e já intervir. Pode ser só um excesso de cera ou uso de cotonete, e essa dificuldade auditiva ser resolvida facilmente e com orientações mínimas, mas quanto mais cedo, melhor”.