O Instagram é uma das redes sociais mais populares do mundo com 1 bilhão de usuários, segundo levantamento do ano passado. Todo esse público torna a rede um espaço poderoso para compartilhar fotos, vídeos e também influenciar comportamento, estilo de vida e consumo das pessoas. E, por lá, de acordo com a pesquisa da HypeAuditor, ferramenta de análise do Instagram, o Brasil é o quarto país no ranking mundial de fraude de influenciadores com 37,50%, uma das menores taxas de autenticidade, ficando atrás apenas da Itália (33,34%), Alemanha (36,72%) e Índia (36,02%).
Isso porque alguns influenciadores compram pacotes para alavancarem seus números de seguidores (reais ou fakes), curtidas, comentários e até visualizações em lives. “As pessoas ganharam vozes, passaram a ser canais de conteúdo e ter poder de influência, antes restrito aos veículos de massa e a quem detinha o capital. Percebendo essa migração, marcas e agências começaram a se aproximar desses perfis para divulgação de seus produtos. No entanto, tomaram como base a escola antiga do marketing e publicidade, cujo objetivo era números de audiência”, explica a consultora de marketing de conteúdo, influência e comunicação 360º Ana Lima.
Esse cenário explica o caminho de muitos influenciadores, inclusive o da instagrammer Maider Quirino, 25, que produz conteúdo sobre maquiagem em seu perfil. “Gastei em torno de R$ 600 num pacote de 3 meses de 8 mil seguidores, só que não tinha likes, então para não ficar tão na cara, comprei likes também”, conta. Maider recorreu à alternativa em busca de um objetivo. “Não conseguia nada com o pouco que tinha, então pesquisava sobre como conseguir parcerias com as empresas. Comecei a ver vários vídeos falando de como aumentar o número de seguidores e prometendo o mundo: seguidoras mulheres, reais, brasileiras e que interagem”.
No entanto, na prática, isso não aconteceu. “Meu alcance diminui muito. Alcançava os fakes, então nenhuma empresa conseguia analisar meu conteúdo”. Mesmo tendo sido enganada, não há respaldo jurídico para cobrar pelo serviço prometido. “Não seria crime. Existe um ditado muito usado no meio jurídico que é ‘Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza’. Grosseiramente falando, seria o mesmo que tentar fazer um boletim de ocorrência por um carro roubado por você mesmo”, esclarece a especialista em direito digital Flávia Penido.
Após abandonar a prática, Maider conseguiu, ainda com 1.500 seguidores, parcerias com empresas. “Fiquei bem chateada e resolvi dar um tempo do Instagram. E só em junho do ano passado, decidi voltar, dessa vez do zero”. Maider não foi punida com o pouco alcance por azar. O Instagram, adquirido pelo Facebook em 2012, com valor de mercado estimado em US$ 100 bilhões, investe para que seus termos de uso sejam seguidos. “Em novembro do ano passado, o Instagram anunciou que iria remover falsos seguidores, curtidas e comentários numa tentativa de evitar fraudes nos negócios que são feitos dentro da plataforma. Muitas contas caíram, mas ainda estamos aguardando maiores limpezas”, diz Ana. Ela explica que o foco das empresas nas redes sociais mudou. “As próprias marcas que tanto exigiam números perderam muito dinheiro com influenciadores que não entregavam o que prometiam”.
De acordo com a pesquisa, uma das táticas fraudulentas mais usadas no Brasil é a de “seguir/deixar de seguir”, que consiste em: o influenciador segue a pessoa, curte ou comenta algum post dela, após receber essa notificação, a pessoa segue de volta e, em alguns dias, o perfil deixa de segui-la. Isso pode ser feito manualmente ou por meio de aplicativos de automação. Com 21,66%, o Brasil é o terceiro país que mais usa esse truque, ficando atrás apenas da Rússia (23,34%) e da Itália (21,78%).
A prática, além de proibida pelos termos de uso da rede social, em alguns casos, pode ser configurada como estelionato e/ou publicidade enganosa, exceto quando se refere a uma paródia ou pseudônimo. “Uso de perfil com nome de pessoa real visando confundir o público é crime de falsa identidade, com pena de detenção de 3 meses a um ano ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. Importante destacar que está em trâmite e já aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o PL que aprova pena maior para crime de falsa identidade praticado pela internet”, explica Flávia. Porém, as empresas que fornecem esse tipo de serviço estão no limbo da legislação, já que essa prática ainda não é prevista e não possui precedentes.
O Edição do Brasil teve acesso a valores de serviços fornecidos por uma empresa para fraudar números de alcance no Instagram. De acordo com o pacote, os preços variam entre R$ 4,50 (1 mil curtidas brasileiras) e R$ 1500,00 (100 mil seguidores sem especificar a nacionalidade).