Está mais que comprovado que a combinação álcool e direção pode ser fatal. E, em grande parte das vezes, é. Dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, divulgados no ano passado, registraram 37.345 óbitos por essa causa. Em 2017, 181.120 pessoas, entre condutores, passageiros e pedestres, haviam se acidentado no trânsito. O valor gasto em 2016 com internações e tratamentos geraram ao Sistema Único de Saúde (SUS) uma desepesa de R$ 252,7 milhões. Um novo dado, divulgado pelo Datafolha com o apoio da Uber, parece apontar uma luz na epidemia do motorista alcoolizado: entre os brasileiros que consomem bebida alcoólica, 68% deixaram de utilizar carro próprio e optaram por aplicativos de mobilidade quando bebem.
Entre os jovens de até 24 anos, faixa etária que mais prefere usar aplicativos na hora de beber, o uso dos apps chega a 75%. Entre a população de 60 anos ou mais, essa é a escolha de 59%. O principal motivo (50% dos entrevistados) para utilizarem o transporte por app para retornar de festas, bares e comemorações é a segurança (medo de assaltos e acidentes envolvendo bebida e direção), seguido por praticidade/conveniência (como falta de local para estacionamento) com 30%, menor tempo de viagem com 21%, custo/benefício com 16%, horário da noite com 14% e dificuldade de transporte público com 9%. Outros motivos foram apontados com 7%.
A publicitária Carolina Vaz, 29, e seu grupo de amigos engrossam a parcela da população que incorporaram o uso de aplicativos dessa modalidade no dia a dia. “De fato, é uma realidade. Quando paro e penso, vejo que peço Uber ou 99 quase todos os dias. Para o trabalho atrasada, para um compromisso e, principalmente, para sair e voltar para casa à noite. Não compensa pegar o carro”, diz.
Para ela, o principal benefício é o custo. “É muito mais simples e barato. Em média, pago R$ 10 com o aplicativo. Se eu for de carro gasto com gasolina, estacionamento, quando não tem flanelinha. E, ainda assim, não dá para ficar totalmente tranquila”. O estudo aponta que 64% dos entrevistados concordam que as pessoas, no passado, combinavam bebida e direção por falta de opção de transporte e 73% dos brasileiros consideram que as pessoas deixaram de beber e dirigir por conta da chegada dos apps.
A opção se mostra uma alternativa viável de combate à prática perigosa, já que dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostraram que, em 2017, 6,7% adultos admitiam conduzir veículos motorizados após consumir qualquer quantidade de bebida alcoólica. Os homens dentro desse patamar ainda continuam sendo os que mais se arriscam, com percentual de 11,7% enquanto que, entre as mulheres, o índice foi de 2,5%.
O engenheiro civil e especialista em transporte Silvestre de Andrade destaca os principais motivos de acidentes no trânsito. “As infrações comuns e que causam mais acidentes são ultrapassagens proibidas, velocidade acima da regulamentada para via, uso de celular enquanto dirige, falta de cinto de segurança e o consumo de bebida alcóolica. Todas elas levam a acidentes”.
Andrade afirmar que para combater esse índice é preciso melhorias em todos os agentes de trânsito: pedestres, veículos e vias. “Todo mundo que vai para a rua está no trânsito e todos precisam melhorar. Temos muitas vias precárias que necessitam de pavimento, correções geométricas, sinalização e drenagem. Por outro lado, nós temos veículos que, apesar de virem experimentando evoluções ao longo dos últimos anos, precisam aprimorar sua segurança. E, o próprio tratamento do motorista ao veículo precisa ser revisto, quando ele anda com um carro com o pneu careca ou faróis queimados, por exemplo, está fazendo mau uso e gerando a possibilidade de acidentes”.