Apesar de fazerem um “zum, zum, zum” irritante e ter uma picada bastante dolorosa, as abelhas são de suma importância para o meio ambiente. Só no Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e produção animal, 60% dependem, de alguma forma, da polinização feita por elas. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem delas.
Mas, um fenômeno recente tem alertado os profissionais que defendem o meio ambiente: mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por apicultores somente nos 3 primeiros meses do ano.
A porta-voz do Greenpeace Brasil, Marina Lacôrt, aponta os riscos iminentes desses números. “Tem uma frase que diz que sem abelha não tem comida e é verdade. Se a gente não tiver elas em campo para fazer esse processo, não só nos alimentos, mas na manutenção e regeneração das florestas, a gente não vai conseguir produzir no futuro muitos alimentos que comemos hoje”.
Ela acrescenta que, assim como as frutas e boa parte da alimentação é dependente desse inseto, as áreas verdes de todo mundo também. “Tem dados que mostram que 85% desses campos são dependentes da polinização das abelhas. Para que as florestas consigam se regenerar para além do desmatamento, a gente precisa delas”.
Segundo Marina, no Brasil, as abelhas correm bastante risco. “Assim como no mundo, mas isso tem ficado cada vez mais evidente por aqui. Somos um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. E existe um grupo desses venenos, que se chama neonicotinoide, a base de nicotina, que são proibidos em alguns lugares, assim como a pulverização aérea. Só que no país os dois são permitidos, o que é avassalador”.
Ela acrescenta que isso se dá pelo fato de a agricultura no Brasil ser impactante. “Ela desmata, agride o solo e acaba com a biodiversidade. Tudo isso pode fazer com que nosso ecossistema entre em colapso e acreditamos, inclusive, que isso possa acontecer se a agricultura não se tornar mais sustentável”.
Ela acrescenta que a principal solução é o banimento dessas substâncias. “É algo que deveria ser proveniente de uma iniciativa federal. Como medida estrutural, o uso de agrotóxicos no Brasil deveria ser reduzido. Existe um projeto de lei sobre o assunto, que tramita no Congresso, para que exista uma política pública como base e que vai possibilitar a diminuição desse uso”.
Mas, alcançar esse objetivo não é tarefa fácil. “A agricultura convencional é dominante e extremamente dependente dessas substâncias em grandes quantidades. Existem medidas e iniciativas importantes, mas pontuais e isoladas. O ideal seria algo em âmbito nacional”.
Nesse ponto, a população pode e deve ajudar. “As pessoas podem assinar a petição no site chegadeagrotoxico.org.br, para mostrar que não querem mais veneno no prato. Nessa mesma plataforma dizemos que não queremos mais a liberação desses agrotóxicos. Além disso, não existe ainda uma política de redução aprovada. O que a gente vê é a liberação de novos agrotóxicos e uma tentativa de liberar ainda mais. Precisamos nos movimentar para mudar essa realidade, pois se isso não acontecer, nosso ecossistema corre sérios riscos”, conclui.