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Lidere como uma mulher

#OndeElaQuiser

Esta semana, a série #OndeElaQuiser conversou com Nely Pereira Aquino, 46, a segunda mulher a ocupar a presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Pertencente ao PRTB, a primeira vez que Nely “fez política” tinha 14 anos. Nascida na cidade de São Sebastião do Maranhão, na região do Rio Doce, ela panfletava para um político na região de Venda Nova, em BH, para onde se mudou aos 11. De menina para mulher da periferia, como ela se autorrefere, muita coisa mudou. A começar pelo cenário, eleita vereadora com 4.765 votos, vindos principalmente de Venda Nova, hoje, ocupa a principal cadeira da Câmara.

Cabe à Mesa Diretora deliberar sobre assuntos internos da Casa e dirigir os trabalhos em Plenário. Assim como qualquer eleição, para se eleger é preciso campanha. Logo, é preciso articulação política para ser a escolhida para representar o Poder Legislativo durante 2 anos. Ela conseguiu 24 votos, contra nove de Orlei (PT do B), o rival mais bem colocado.

Nely é a segunda mulher a se eleger para o segundo posto mais importante da política de BH sendo que a primeira mulher a ocupar a presidência da Casa em toda a história do Legislativo Municipal foi a vereadora Luzia Ferreira, em 2009. Nas últimas eleições, apenas três mulheres, além dela, foram eleitas vereadoras na capital: Cida Falabella (PSOL), Bella Gonçalves (PSOL) e Marilda Portela (PRB). “Tenho um respeito tremendo por todas as mulheres que conseguem ocupar espaços, principalmente políticos, dentro da nossa atual sociedade”, diz citando Áurea Carolina (PSOL), com quem trabalhou na Câmara por 2 anos.

“Para a democracia funcionar, antes de tudo é preciso respeito”, diz. Fora isso, diálogo e transparência são as habilidades que a vereadora elenca como as principais para exercer seu cargo.

Machismo e o fator Kalil
Para ela, é difícil eleger as principais causas para a ausência de mulheres na política. “Uma das questões é a falta de apoio familiar. Quando o homem decide que vai entrar para a política, ele é o arrimo financeiro da casa, toma a decisão e, geralmente, já tem o apoio da esposa. Quando a mulher decide por este caminho, nem sempre encontra apoio”, avalia.

A vereadora sabe bem, segundo seus cálculos, seu dia pode chegar à 16h de trabalho. Ela tem um filho de 5 anos. “Se eu não tiver apoio dentro de casa, não consigo desenvolver essa função”. Outro empecilho é a desconfiança feminina. “Existe o preconceito da própria mulher com a mulher em relação à capacidade do desenvolvimento do trabalho”.

Na época da eleição da Câmara, a vereadora, de base governista, foi apresentada como a candidata de Alexandre Kalil (PHS). Apesar de alegar que isso não a incomodou, ela enxerga machismo na repercussão. “Todos os candidatos à presidência da Câmara que presenciei até hoje tiveram interferência do Executivo. O prefeito sempre se posiciona. Alguns foram falar que minha eleição só tinha se dado pela interferência do Kalil. Quer dizer, uma mulher não tem capacidade de articular o suficiente para ser presidente? Se fosse um homem, eles não fariam isso. Para mim, é machismo”, conclui firme.

O estilo enérgico, inclusive, é mencionado. “Alguns me definem como uma pessoa firme demais, não é Carol?”, sorri direcionado a pergunta para a fotógrafa da Câmara. “Não sou de titubear. Se a decisão tem que ser tomada, eu tomo. E isso não é o perfil esperado de mulher, esperam fragilidade. Misturam sensibilidade com fragilidade”, afirma.

As próximas
Para a vereadora, fincar bandeiras de pioneirismo na política garantirá espaços para as próximas gerações de mulheres. “A nossa sociedade é machista e a política é um ambiente machista. Essa mudança é em médio e longo prazo”.

Nem a Lei 9504/1997 que estabelece o patamar mínimo de 30% de candidatas femininas tem cumprido seu papel. “Da forma que está, acaba facilitando certas falcatruas, porque obriga o partido a ter um número de mulheres e não tem essa quantidade exata interessada em participar. Se estivéssemos uma lei que determinasse a porção de mulheres eleitas, acho que seria diferente”.

Para ela, o problema é estrutural. “A disputa é muito injusta, porque o poder financeiro não está nas mãos das mulheres. É difícil conseguir dinheiro para campanha, apoio e até passar para a sociedade a possibilidade de desenvolver trabalho, pois, ao longo dos séculos, elas participaram tão pouco”. Ela percebe isso no dia a dia. “Sento em mesas de reuniões com 15 pessoas e sou a única mulher. Isso é uma coisa que choca”, finaliza.