Quem acompanha a novela “Segundo Sol”, da Rede Globo, está por dentro do drama que a personagem Rochelle, interpretada por Giovanna Lancelotti, vive após ser diagnosticada com uma doença grave e pouco conhecida: a síndrome de Guillain-Barré (SGB). No mundo, a incidência anual de SBG é de 1-4 casos por 100.000 habitantes e pico entre 20 e 40 anos.
A SGB é uma neuropatia inflamatória aguda que ataca os nervos periféricos (aqueles que conectam órgãos e músculos ao cérebro e os que ligam a medula espinhal ao resto do corpo). Os sintomas começam com fraqueza e formigamento nos pés e nas pernas que se espalham para a parte superior do corpo. Pode ocorrer paralisia facial e de membros, em questão de horas ou dias.
A condição é autoimune (quando as defesas do corpo são mais intensas do que o necessário e passam a atacar o próprio organismo) e não há uma causa específica ou prevenção, o que se sabe é que em 70% dos casos, a SGB se manifesta após alguma infecção que o paciente adquiriu anteriormente e, menos frequentemente, após vacinação. “Várias infecções podem gerar autoimunidade e levar a síndrome. Normalmente, as fraquezas começam e vão aumentando no decorrer de 4 semanas até atingir o pico da piora”, explica Paulo Christo, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O tratamento vai depender da situação clínica do paciente. Em alguns casos, ele pode ter paralisia da musculatura respiratória e alterações do ritmo cardíaco e precisa ficar internado em uma Unidade de Terapia Intensiva para garantir uma respiração adequada. Geralmente, o tratamento é feito com imunoglobulina. “De todos os pacientes que tiveram Guillain-Barré, 5 a 10% pode permanecer com algum sintoma motor incapacitante no curso de 2 anos. O resto tem uma boa recuperação”, ressalta Christo.
Foi o que aconteceu com o empresário Paulo Henrique Salgado, 29, depois de ter amigdalite. “Comecei a me sentir indisposto e acordei com formigamento na mão esquerda, que passou para o pé direito. Só procurei um hospital, quando subi numa escada para tentar pegar um objeto no guarda-roupa e vi que não tinha forças”, conta. Sem consenso, os diagnósticos dos médicos variaram entre depressão, estresse e tratamento com corticoides. “Me deram até antidepressivo e me mandaram para casa”, relembra. O quadro, porém, só piorava. “Fiquei bem fraco, só na cama. Não conseguia me levantar sozinho, andar, fazer força e ficar sentado. Não fui entubado, mas parecia uma alface”.
Após uma mudança de hospital e um teste de punção lombar, Salgado foi diagnosticado com SGB. Já na primeira dose de imunoglobulina começou a responder bem ao tratamento. “Em um mês, estava com minha força recuperada. Hoje, não tenho movimentos no meu lábio inferior, assim como a minha língua que não tem os movimentos que deveria ter, o que dificulta minha fala, mas acredito que continuando com a fonoaudióloga e a massagem, recupere 100%”, avalia.
O fator zika vírus
Entre 2015 e 2016, o Brasil detectou mais de 1.800 casos da síndrome. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a relação da SGB com zika vírus, dengue, chicungunha, gripe e HIV foi comprovada, embora não existam estudos estatísticos sobre as porcentagens de causa e efeito. “O zika é mais um tipo de vírus que que pode ser essa infecção prévia. Só que 2 anos atrás, quando tivemos um surto de zika vírus, o que foi notado é que houve uma incidência maior de Guillain-Barré nos locais onde havia o maior número de casos de zika vírus, como Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Recife”, esclarece Christo.