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77% dos brasileiros assumem que tomam remédio por conta própria

Prática pode trazer riscos à saúde e mascarar doenças existentes | Foto: Reprodução/Internet

O hábito da automedicação está cada vez mais presente na vida das pessoas. É muito comum receber indicação de amigos, familiares ou uma rápida pesquisa na internet para chegar a um diagnóstico. De acordo com levantamento realizado pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Datafolha, 77% dos brasileiros assumem que fazem uso de medicamentos por conta própria. A prática pode trazer riscos à saúde, inclusive, mascarar doenças existentes ou até mesmo causar a morte.

A automedicação é cultural no Brasil, amplamente praticada, mas pode ser perigosa. “Atualmente, a facilidade de acesso pelo smartphone faz com que as pessoas pulem etapas. Elas vão direto para a internet fazer o autodiagnóstico, ao invés de procurar um médico. Também seguem dicas das redes sociais ou de amigos e parentes, sem saber se estão corretas”, afirma o farmacêutico Guilherme Silva.

Ele diz ainda que remédios são substâncias químicas e podem apresentar reações indesejáveis, além do seu efeito benéfico. “Eles costumam sofrer interações entre si e com alguns tipos de alimentos, interferindo na sua ação no organismo e levando ao desencadeamento de outras patologias. O uso de forma errada e desnecessária pode mascarar a existência de alguma doença ou agravar um problema de saúde já existente”, alerta.

Ainda conforme o estudo do CFF, quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e um quarto (25%) o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana. A pesquisa também detectou que muitas pessoas usam remédios prescritos pelo médico, mas não de acordo com as recomendações, alterando a dose receitada. Esse comportamento foi relatado pela maioria dos entrevistados (57%), especialmente homens (60%) e jovens de 16 a 24 anos (69%).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) calcula que 18% das mortes por envenenamento no Brasil podem ser atribuídas à automedicação. Já segundo a Fundação Oswaldo Cruz, os medicamentos são a principal causa de intoxicação no país, quando não utilizados conforme recomendação médica. Estão, inclusive, à frente de produtos de limpeza, agrotóxicos e alimentos estragados.

O Ministério da Saúde aponta que os principais medicamentos utilizados na automedicação são os anti-inflamatórios e os analgésicos, para alívio de dor e febre. “Apesar de comuns, tais sintomas podem indicar uma série de problemas de saúde, como dengue, zika e COVID-19, que podem ser mais sérios do que uma gripe”, esclarece o clínico geral Lucas Martins.

Ainda segundo ele, esses remédios podem piorar problemas gástricos, prejudicar quem tem problemas cardíacos e agravar a hipertensão, entre outras consequências. “Os antitérmicos podem provocar reações alérgicas, enquanto os populares descongestionantes nasais, quando usados constantemente, podem causar taquicardia, elevação da pressão arterial e até rinite medicamentosa”.

Problema grave

A estudante universitária Luciene Mendes teve sérias complicações ao tomar medicação por conta própria e não consultar um médico. “O problema apareceu na minha adolescência. Bastava eu comer alguma comida mais gordurosa ou com excesso de açúcar que meu fígado atacava. Fazia uma consulta rápida na internet pelos sintomas e tratava de comprar o remédio. A dor aliviava em algumas horas e eu já estava ótima no dia seguinte”.

Ela diz que a situação começou a ficar frequente e a medicação resolvia momentaneamente. “Na correria do dia a dia fui adiando a consulta com o médico, mas em uma das crises não teve jeito. Os exames mostraram que o problema era, na verdade, na minha vesícula. Precisei fazer uma cirurgia para retirada do órgão. Hoje em dia, não tenho mais dores e tento manter uma alimentação mais balanceada”, conta.

“Dr. Google”

As pessoas têm preferido buscar respostas pela internet ao invés de consultar com um médico. “Elas se baseiam em determinados sintomas para fazer o diagnóstico de patologias e já buscam também o tratamento. Tomar medicação por conta própria, sem a supervisão técnica do profissional farmacêutico pode causar danos irreparáveis à saúde, levando até a morte. Mesmo os que são isentos de prescrição médica precisam de orientação adequada”, conclui Silva.