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Futebol tá fraco

Entre as boas coisas que trabalhar no meio esportivo nos proporciona, a melhor delas, certamente, é a quantidade de amigos que conseguimos angariar. Não existe um lugar ou situação em que nos encontramos e, em pouco tempo, a roda de conversa não se abra com facilidade para falar de futebol. É um assunto interessante, empolgante, com várias visões e entendimentos, mesmo que sempre sem o mínimo consenso de opiniões. Cada um tem a sua e ponto final.

Como todo mundo conhece muito sobre futebol, sendo um treinador em potencial, a solução dos problemas está sempre na ponta da língua e, em geral, a culpa dos erros é quase sempre da imprensa. Aí meus amigos, é preciso tomar certos cuidados para não complicar o papo, evitando aumentar demais a pressão da conversa.

O que observo como novidade é que, de uns tempo para cá, o torcedor está cada vez mais esclarecido, principalmente, os mais novos e as mulheres. Isto, graças aos vários espaços dedicados ao futebol nos meios de comunicação e fundamentalmente as redes sociais com suas ferramentas instantâneas.

A imprensa esportiva vem se preparando cada vez melhor, tanto na qualificação dos profissionais, como na utilização dos mais avançados recursos tecnológicos. A transmissão de um jogo por uma emissora de rádio, que pouco tempo atrás era algo complicado, exigindo equipamentos pesados, cabos imensos e circuitos telefônicos analógicos, atualmente acontece de forma simples, rápida e com sinal totalmente digital.

O mesmo acontece em relação a televisão, jornais e outros veículos que podem realizar coberturas excepcionais. A organização do futebol também melhorou de forma considerável. É possível saber com enorme antecedência a tabela dos jogos, com horários e locais. O cerimonial antes de cada jogo também avançou. Os clubes se organizaram. A maioria criou assessorias de comunicação com profissionais qualificados e boa estrutura.

Apesar de algumas pequenas dificuldades ou bobagens, como a demora na liberação da lista dos jogadores relacionados ou o fechamento dos centros de treinamentos antes dos jogos, e até mesmo as dificuldades na liberação de entrevistas, o serviço funciona a contento em termos de parceria com os veículos de comunicação.

O que, infelizmente, não melhorou, é a qualidade do futebol praticado dentro de campo. No passado, nem tão distante, era fácil encontrar cinco a seis craques em cada time. Atualmente, para achar um jogador diferenciado é preciso muita boa vontade e uma lupa poderosa.

Em todos os times é fácil observar atletas que não conseguem administrar os principais fundamentos do esporte. Até na parte física a coisa piorou. Contando com tantos profissionais formados e equipamentos de última geração, vários jogadores não aguentam correr um jogo inteiro e muitos não conseguem nem fazer uma sequência de jogos.

A desculpa é o calendário. Mas não pode ser totalmente aceitável. Os times sabem qual calendário irão enfrentar. Precisam é montar elencos realmente qualificados com capacidade de enfrentar tamanha maratona. Caso contrário vamos ficar sempre contando mais com a sorte do que com a competência.

O fato é que o futebol brasileiro vai descendo a ladeira, cada vez mais fraco e feio. Altamente burocrático. Os treinadores se especializaram em montar times encolhidos, jogando para trás, segurando a bola ao máximo e tentando ganhar com um golzinho qualquer.

Nas coletivas, estes nobres professores de futebol conseguem dar explicações surreais a respeito do seu time e do jogo. Passam a impressão que já entram na sala com uma fala decorada, tentando explicar o inexplicável.

Assim caminha o nosso futebol, cuja tendência é ficar pior a cada ano em termos técnicos. Enquanto isso, vamos reunindo os amigos e abrindo a roda de conversa. Entre umas e outras, essa é a melhor parte do futebol.

 

* Presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE)