Nadar 3,8km, 180km de bicicleta e 42km de corrida. Se para a maioria das pessoas fazer essas atividades separadas seria praticamente impossível, imagina praticar todas juntas? Esse é o desafio de quem faz triatlo.
Além de ser uma modalidade pouco conhecida, a população também desconhece que um dos 50 melhores atletas desse esporte é mineiro. Thiago Vinhal, de 33 anos, participará, pelo segundo ano consecutivo, do Mundial de IronMan 2018, em Kona, no Havaí, que acontece dia 13 de outubro. A sua participação na competição do ano passado foi histórica: ele completou a prova em tempo recorde entre todos os atletas brasileiros que já competiram, com 8h27min24, tendo sido o 13º colocado em sua estreia.
O Edição do Brasil conversou com o esportista para saber um pouco mais de sua rotina.
Como surgiu seu interesse por esse esporte?
Comecei a praticar natação ainda criança aos 3 anos. Meus pais me matricularam, porque sempre fui muito ativo e eles acharam que seria uma forma de me ajudar a gastar energia. Desde então, não parei mais.
Aos 17, quando fazia alguns trabalhos como modelo, um pedido despretensioso da agência onde trabalhava acabou mudando meu destino. Eles pediram que eu emagrecesse um pouco e ficasse com a musculatura mais definida. A partir disso, comecei a correr e a fazer aulas de ciclismo indoor e, desde o começo, me apaixonei também por essas modalidades. Para unir as três, foi um pulo.
Quais são os principais desafios físicos da modalidade?
O principal desafio do triatlo é a conexão de uma rotina bem equilibrada entre os treinamentos das três modalidades em longo prazo. Por exemplo: conseguir treinar uma semana é fácil, mas oito semanas seguidas sem lesionar, sem ficar doente e dando tudo certo, treinando bem e recuperando, é o mais difícil. O desafio não é físico, mas sim fazer bons treinos durante 10 semanas, pois o corpo começa a reclamar e temos que ter tudo bem conectado: fisioterapia, alimentação, descanso e massagem.
Como é praticar esse esporte pouco conhecido no país?
O Brasil é um país futebolístico, não ciclístico. Além disso, o triatlo é um esporte caro, que demanda investimentos em alimentação, profissionais da saúde e equipamentos de alto custo. Culturalmente, o país não valoriza o esporte e, com isso, é muito desafiador o atleta brasileiro, seja ele profissional ou amador, se manter e ter sucesso. Além do alto investimento de tempo e dinheiro necessários, o nosso país não tem estrutura adequada, os ciclistas correm risco durante seus treinos nas rodovias e ciclovias mal planejadas, entre outros.
E como é a busca por patrocinadores?
A busca por patrocinadores também é muito mais complicada do que em esportes já popularizados. Atualmente, no auge da minha carreira profissional, conquistei bons parceiros, como a Tênis Pé Baruel, Asics, Sense Bike, a Gol/ Delta, a Patrus Transportes, a Orthocrin, a BDO, Cultura Inglesa, Kask e Shimano. Mas isso ocorreu após anos de luta e dedicação, e um resultado em nível mundial, competindo de igual para igual com atletas de países que valorizam o esporte, como a Alemanha, Dinamarca e França. Entretanto, a grande maioria dos atletas brasileiros do triatlo não consegue apoio algum.
Na sua opinião, o que falta para que esse esporte seja reconhecido nacionalmente?
É necessário que haja interesse da própria mídia. Hoje, todos os holofotes estão no futebol. Poucas modalidades são praticadas por mais de um milhão de amadores e com várias histórias de superação como o triatlo. E o IronMan, principalmente, tem esse contexto. São histórias de vida e de superação muito maiores do que a do futebol e do vôlei, por exemplo, que olham a performance.Essa é uma modalidade inclusiva e famosa pelo número de atletas amadores que fazem, ou seja, pessoas comuns que dividem o tempo com a prática do esporte. A partir do momento que a mídia voltar os olhos e enxergar essas histórias de superação, pode motivar ainda mais gente e abrindo mais espaços.
Quais são as suas expectativas para o mundial?
A expectativa é de conseguir melhorar o meu tempo com relação a 2017. Esse é o meu foco número um. Isso já vai ser uma grande meta, já que, no ano passado, eu bati o recorde brasileiro em Kona. Se eu conseguir aprimorar meu tempo de novo, consequentemente, vou melhorar também a minha posição. O meu sonho é fazer o top 10 e pegar o pódio no IronMan, coisa que brasileiro nenhum nunca fez.