Para melhorar de vida, muitas pessoas almejam uma oportunidade de sair do país. Prova disso é que uma pesquisa do Instituto Datafolha apontou que 70 milhões de brasileiros, com mais de 16 anos, iriam para o exterior se tivessem oportunidade.
O estudo aponta que 43% da população adulta tem o desejo de se mudar. Na faixa-etária de 16 a 24 anos, a porcentagem é ainda maior, chegando a 62%. São 19 milhões de jovens que deixariam o Brasil, o número equivale a toda a população de Minas Gerais.
Mas, será que essa mudança representa, de fato, uma melhoria de vida? A psicóloga organizacional e clínica Livia Marques explica que é preciso entender que, quando se toma a decisão de sair do país, toda a rotina é alterada. “Por isso, a primeira coisa a se aprender é ter resiliência, porque alguns momentos podem não ser confortáveis”.
Segundo ela, apesar de ser uma novidade boa, a pessoa precisa lidar com a ansiedade. “Vão existir coisas que precisarão ser superadas. Estar longe da sua cultura, língua e, principalmente, das pessoas que ama, dói. Não é um passeio, é uma mudança que precisa ser bem compreendida para evitar frustrações”.
Para que a mudança não seja tão assustadora, Lívia diz que a melhor saída é o planejamento. “O primeiro passo é entender o porquê de estar indo. Depois, ter sempre em mente que as coisas podem dar certo, como podem não dar. Agora, um ponto importantíssimo é ter consciência de que se trata de uma nova cultura, pessoas com hábitos diferentes, uma nova sociedade”.
Por isso, a psicóloga aconselha a pesquisar bastante sobre o lugar de destino. “Se a pessoa sai do Brasil, que é um país no qual a maioria das pessoas são amigáveis, calorosas e praticam a ajuda mútua, e vai para outro que a população é mais fria, é algo brusco que requer mais tempo de adaptação”.
Foi exatamente o que aconteceu com a profissional de marketing Luciana Carpinelli. Ela morou um ano na Alemanha e recorda que a experiência de adaptação foi difícil, mas incrível e rica em aprendizado. “Não falava nem cinco palavras em alemão. Não conhecia ninguém, mas ainda sim, valeu a pena”.
Luciana conta que estava infeliz no trabalho e decidiu arriscar a mudança que foi bem planejada. “Já falava inglês e decidi aproveitar para aprender outro idioma. Berlim foi uma alternativa interessante, acessível e culturalmente rica. Tinha umas economias guardadas, fiz um acordo na empresa que trabalhava e comprei minha passagem com 3 meses de antecedência”.
A primeira coisa que procurou foi uma escola para aprender a falar alemão. “Contratei um pacote de um curso para iniciante e um mês de estadia na casa de família. Esse tipo de hospedagem é mais cara, mas preferi ter essa estrutura para começar e me adaptar”.
Luciana acrescenta que a experiência foi muito importante para sua autoestima. “Aprendi a me virar. Eu era a minha única companhia para o bem ou mal. Fiquei mais confiante e isso me ajudou, inclusive, profissionalmente”.
Apesar de não ter tido a oportunidade de morar lá, para ela, o ano que passou no país valeu a pena. “Eu não consegui o visto de trabalho e isso dificultava para conseguir alguma atividade fixa. Na mesma época, minha avó estava com problemas sérios de saúde e, agregado a saudade, a melhor alternativa foi voltar. Mas isso não significa que tenha dado errado. A bagagem que criei foi um aprendizado enorme”.
O que é preciso?
Mudar de país requer, além de preparo pessoal e emocional, toda uma organização burocrática. De acordo com o fundador da Elite International Realty, consultoria imobiliária com sede em Miami, Leo Ickowicz, é fundamental que o brasileiro se atende às leis e regulamentos do país de destino, uma vez que há legislações diferentes para cada um.
No caso de quem pretende investir em um negócio próprio fora do país, o conselho é buscar um advogado de visto. “Ele vai orientar melhor nesse processo. É fundamental começar da forma correta no novo país, tanto em termos de negócios, quanto em investimentos. Um contador para indicar as melhores formas de recolher taxas e impostos também seria interessante”.
Outro ponto destacado por Ickowicz diz respeito a residência. “Pensar em um bairro que atenda suas demandas, escola para os filhos, se houver, além de pesquisar lugares próximos a hospitais, mercados e do local de trabalho”.
Para ele, o processo pode levar de 6 meses a um ano. “Há vários fatores envolvidos, como econômicos e psicológicos, mas o melhor é analisar bem todo o cenário. O ideal é não fazer nada com pressa. O visto de estudante é uma opção para não tomar decisões erradas e acabar elevando ainda mais os custos”, conclui.