Fernando Pimentel*
Passados 5 anos que o Brasil viveu as jornadas de junho, quando jovens foram às ruas, seguidos por milhões de pessoas, pedindo inicialmente a queda no preço das passagens e depois a melhoria dos serviços públicos, estamos diante de um novo movimento que parou o país. Desta vez, pedindo a queda no preço do diesel.
Caminhoneiros paralisaram recentemente as rodovias nacionais e também as mineiras em virtude de um aumento de mais de 50% no preço médio do óleo diesel em menos de um ano. Somente em 2018, conforme dados da própria Petrobras, o diesel foi de R$ 1,71 para R$ 2,37 nas refinarias.
Fosse uma empresa privada, a lógica aplicada pela Petrobras ao comércio de seus combustíveis seria de exclusiva responsabilidade do ex-presidente da empresa, Pedro Parente, um técnico que, a exemplo do Governo Temer, ao qual servia, não tem nenhuma sensibilidade social.
Parente e Temer administraram a maior estatal brasileira como se fosse uma multinacional americana, impondo ao mercado do Brasil a moeda dos Estados Unidos como valor de referência para a venda de diesel, gasolina e gás de cozinha.
Acontece que os brasileiros – aqueles que têm emprego no país em que 13,1% não têm – não recebem seus salários em moeda americana. Se importássemos o padrão dos Estados Unidos, o salário mínimo aqui seria de mais de R$ 4,3 mil, a dólar de hoje, e não de R$ 954.
Como a Petrobras é uma empresa pública, de todos os brasileiros, a decisão sobre o valor dos combustíveis não pode ser focada no lucro, especialmente no contexto da mais grave crise econômica pela qual o país já passou.
Que se investigue a suspeita do chamado locaute. Afinal, um grupo de empresários não pode submeter o país à sua vontade de lucrar. Mas isso também vale para a Petrobras. A estatal não pode submeter o país e os mais pobres a aumentos exorbitantes para fazer a alegria de acionistas estrangeiros.
A paralisação provocou perdas de dezenas de bilhões de reais para a economia, deixou os mercados desabastecidos e a população tolhida em seu direito de ir e vir. Não é preciso muito mais para classificar de irresponsável e perversa a política de preços da Petrobras.
A conta sobrou para os governadores que, com grande esforço, redirecionaram a ação policial para garantir o abastecimento, fazendo a escolta de caminhões-tanque e de postos de gasolina e agindo para desobstruir as vias estaduais.
E o que fez o governo federal? Ameaça os estados com a perda de recursos fundamentais nesse cenário de crise. Já temos em Minas Gerais o terceiro menor imposto de todo o país sobre o diesel. Cortar ainda mais não resolve o problema, porque a estatal continuará aumentando o valor dos combustíveis.
Mais uma prova de que nada é tão importante em momentos de crise quanto fazer as escolhas certas. Eles escolheram os rentistas e endinheirados. Não pensaram no principal acionista da Petrobras: o povo brasileiro.