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O câncer nunca espera

A pandemia de COVID-19 mostrou de maneira clara e sem filtro as inúmeras mazelas da sociedade. No Brasil, muitos morreram, milhares foram infectados e tantos outros perderam seus empregos. Além disso, aqueles que já estavam doentes ficaram sem poder se tratar adequadamente ou não puderam fazer exames de rotina.

Por exemplo, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Patologia e de Cirurgia Oncológica, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. Outros tantos pacientes, já com o tumor detectado, precisaram ter seus tratamentos suspensos. Cerca de 70% das cirurgias desse tipo tiveram de ser adiadas.

Esses dados são resultantes dos cancelamentos ou remarcações de procedimentos considerados não urgentes, como, por exemplo, consultas e exames. Além disso, muitas pessoas ficaram com medo de consultar um médico ou buscar um hospital pelo receio da contaminação. Instituições importantes viram a queda de atendimentos durante o período, como o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

Mas será que haverá outras remarcações? Dará tempo de resistir até lá? São questões que quem está com câncer se pergunta o tempo todo. Por exemplo, tive uma consulta que seria em dezembro, mas que foi remarcada. Ela seria importante, pois determinaria a mudança da hormoterapia, que funciona como uma quimioterapia oral que realizo todo dia, mas que tem tido baixa eficácia. Até quando vou precisar esperar? E como ficam outros na mesma situação?

Para piorar a condição de inúmeras pessoas, devido ao medo do contágio do novo coronavírus, há médicos que preferem não ter contato com pacientes quando fazem exames nesse período. Porém, isso é fundamental, já que precisam tocar na mama, na axila e outros pontos para identificar possíveis linfonodos (são gânglios linfáticos, que permitem a possível identificação ou piora da doença).

É preciso ressaltar a séria preocupação com a COVID-19, no entanto, o câncer nunca estará em quarentena e não espera. Quem está em acompanhamento, necessitando de exames de rotina para o rastreamento da doença, que precisa fazer consulta de 6 em 6 meses, acaba entrando nessa estatística, ora por ser remarcada, ora pelo próprio medo do coronavírus.

Não podemos reclamar o tempo todo da pandemia. Vale ressaltar que muitos problemas do sistema de saúde não são de agora. O que era deficiente só ficou pior com o aumento do contágio da COVID-19. Os pacientes não podem ficar de lado. Como já disse e reforço, o câncer não espera.

*Jaqueline Chagas
Fundadora do Grupo Unidas para Sempre

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