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Alimentação natural para pets gera polêmica entre especialistas

Muitos tutores acreditam que, ao oferecer uma ração de qualidade, estão dando o melhor alimento para os seus animais de estimação. Mas será que isso é verdade? Os seguidores da alimentação natural acreditam que não.

O veterinário Artur Vasconcelos explica que termo alimentação natural é genérico e acaba sendo utilizado para identificar vários tipos de dietas baseadas em alimentos não processados. “No entanto, tenho dado preferência para o uso de alimentação bio-apropriada ou ancestral, que simula a dieta dos antepassados mais próximos de cães e gatos em ambiente natural”.

Ele acrescenta que a base da alimentação natural é formada por alimentos frescos, variados e adequados a fisiologia do animal. “Cães e gatos possuem domesticação recente e insuficiente para separá-los em espécies diferentes de lobos e gatos selvagens. Seus materiais genéticos, metabolismos e fisiologias digestivas são idênticos aos de seus antepassados. Considerando que a ciência da nutrição é nova e muitas vezes empírica, temos menos chances de errar se aproximarmos daquilo que a natureza já deixou claro. A melhor nutrição vai ser alcançada se oferecermos basicamente presas em estado natural, crua, com ossos e vísceras”.

Vasconcelos ressalta que o principal ganho dessa dieta é a redução do estresse metabólico, causado pelo consumo de carboidratos por animais que, basicamente, estão adaptados a obter sua energia por meio de proteínas e lipídeos. “As dietas frescas oferecem benefícios que dificilmente serão encontrados nas processadas. A cada dia se descobre novos nutrientes considerados essenciais que, de alguma forma, podem estar faltando na ração”.

O veterinário ressalta também que alimentos frescos são livres de substâncias como conservantes, corantes, pesticidas e aflatoxinas. “Todos eles podem estar ligados à formação de câncer e distúrbios hormônios”.

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Segundo o especialista, qualquer animal de estimação pode consumir a alimentação natural, porém ela não é para qualquer tutor. “Essa dieta exige maior dedicação, estudo, planejamento e tempo. Com a rotina cada vez mais apertada é comum que não se consiga manter a prática por um período longo. Animais mais velhos e com doenças crônicas podem ter dificuldade para se adaptar, mas, de forma geral, com paciência e persistência, eles podem ser beneficiados”.

Mudança de hábitos

O bulldog francês Zeus se alimenta de comida natural há 4 meses. A tutora Laila Quintão conta que decidiu mudar a alimentação do pet após recorrentes alergias. “Por mais que ele comesse a ração super-premium, ainda não era o ideal, porque esses produtos industrializados possuem muita farinha e baixos aminoácidos. Com a alimentação natural, tudo o que Zeus precisa está ali”.

Ela diz que os resultados são visíveis. “Apesar de estar com o mesmo peso de há 6 meses, a diferença corporal é notória. Antes ele tinha muita pele e gordura e, hoje, observa-se que há uma definição muscular. Além disso, noto que muitas doenças comuns da raça, como alergias e otite, o Zeus não tem mais e houve também uma redução significativa na queda de pelo”.

A dieta de Zeus é baseada em alimentos crus e sem osso, com 35% de proteína animal, 5% de vísceras, 30% de carboidratos essenciais e 30% de vegetais. “Faço as marmitas uma vez por mês e gasto, em média, 2 horas e R$ 80”.

Outra perspectiva
A dieta bio-apropriada não é unanimidade entre os profissionais. O veterinário e professor da UFMG Rodrigo Otávio Silva afirma que há estudos teóricos que descrevem a presença de patógenos em carnes cruas de frango e boi. “Cães que são alimentados com esse tipo de comida eliminam mais agentes patogênicos no ambiente, o que pode causar doenças, principalmente diarreia e vermes, tanto no animal quanto em seus tutores”.

Silva afirma que as pessoas estão optando pela dieta apenas para oferecerem alimentos mais naturais aos seus animais, mas ainda não há nenhuma comprovação científica. “O que é natural, nesse caso, é mais filosófico e nada científico. A questão é que, até o momento, não existe estudos, seja no Brasil ou exterior, que demonstrem claramente as vantagens, principalmente com carne crua. O que encontramos são depoimentos sobre os benefícios, mas, reitero, não existem trabalhos científicos que comprovem isso”.

Sobre a eliminação de patogênicos no ambiente, Vasconcelos afirma que isso pode acontecer, porém os mesmos que estão presentes na carne crua podem ser encontrados em outros lugares, como o chão do banheiro. “Animais alimentados com ração também podem eliminar Salmonella sp. nas fezes. E uma porcentagem significativa de rações está contaminada. Não se sabe a real importância dessa eliminação de micro-organismos para contaminação ambiental, nem se isso de fato é prejudicial à saúde humana”.

Vasconcelos finaliza dizendo que não há interesse por parte da indústria de rações patrocinarem pesquisas nas quais falem mal do seu produto. “A prática de alimentar cães com a dieta bio-apropriada se apoia principalmente em bases evolutivas, que são científicas. Invertendo a lógica, são as rações que precisariam se mostrar seguras, por meio de estudos, para combater o embasamento científico que já favorece o que é natural”.

[box title=”” bg_color=”#e0e0e0″ align=”center”]Antes de inserir a alimentação natural para o seu animal, consulte um veterinário especialista em nutrição para orientar a melhor forma de fazê-la. NUNCA comece a dieta sem acompanhamento profissional.[/box]