Convencido de que as grandes instituições nacionais são puramente abstrações, a conclusão é de que o Congresso, a Presidência da República, Supremo e todos os outros níveis de poderes só existem porque as pessoas acreditam. No momento seguinte do descrédito, está desmontado o pilar que sustenta todas as relações. Se for assim, como o Congresso continua existindo se o descrédito tomou conta da vida política? A resposta é certa, ainda existem os que acreditam em deputados, senadores, ministros, presidente da República e ministros do Supremo.
Outra grande invenção da humanidade é a empresa, uma abstração. Não existe e chega a ser dona de coisas que existem. Contratam pessoas, mandam em humanos e até possuem carros e imóveis, mas não existem. A prova é que um minuto depois de uma decisão judicial determinando a inexistência da empresa ela automaticamente não existe, ou seja, nunca existiu na prática. As convenções foram formadas para dar uma base à organização social. E é esse lado que está em risco. As críticas são tão duras contra políticos de maneira generalizada que nos levam a pensar que poderemos viver sem eles. Não. Quem não gosta de política acaba sendo governado por um deles. É inevitável.
Em recente levantamento público, o motivo apontado para a má vontade é que a atividade é ligada à corrupção e depois por se tratar de debate fora da realidade e em terceiro, por ser um assunto chato. Não gostar de político é uma coisa, mas viver sem político é outra completamente diferente. No momento seguinte ao anúncio de que o partido vai apresentar um não político para ser o candidato, ele passa automaticamente a ser um político. Só que nesta condição será um pior do que os outros por saber que está mentindo e enganando.
Não haverá um desmoronamento das instituições por absoluta falta de crença, mas as estruturas estão atingidas. O Congresso Nacional será menor no ano que vem já que os votos nos deputados e senadores não serão distribuídos por suas competências, mas pela falta de opção. Os partidos conhecedores das dificuldades políticas se fecharam contra novidades e como não há como ser candidato sem um partido político, os dirigentes tomaram conta das eleições.
O foco é tão objetivo que a disputa pela presidência da República ficou em segundo plano. Agora os partidos querem aumentar as suas representações no Congresso. Descobriram que manda no País, quem domina o Congresso. Foi assim nas últimas gestões e será assim para a próxima. Ninguém faz nada sem o Congresso, onde o voto é vendido com base no interesse do governante de plantão. Este é um jogo para profissionais. A outra má notícia é que não existe voto em branco ou nulo. Quando o eleitor não exerce o seu direito de votar está na verdade passando a outrem o seu voto para que ele tome a decisão.
O processo é definido cuidadosamente para não dar certo mesmo. Já são 12 pré-candidatos à sucessão do presidente Michel Temer. Ninguém presta atenção na disputa e o grande assunto é a possibilidade de prisão do ex-presidente Lula. Fica mais fácil falar deste assunto. Só que os políticos se preparam para a reeleição ou sobrevivência política. Os eleitores entrarão nas sessões eleitorais como quem vai a um restaurante muito ruim. Olha o cardápio e não gosta de nada. Pergunta ao garçom, se são essas as opções. A resposta é conhecida: “Só estes do cardápio e se apresse. A cozinha está sendo fechada”. Assim será a escolha em outubro, no cardápio sem possibilidade de mudança preparado pelos donos dos partidos.