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Vítima da tragédia em Mariana escreve livro

Completado 2 anos, o rompimento da barragem de Fundão ainda assombra as pessoas que perderam tudo com o lamaçal. Uma delas é a autora do livro “Tragédia da barragem da Samarco – O que a mídia não contou”, Normalina Viana. Ela teve sua fazenda São José destruída pelos rejeitos de minério.

Ela conta que percebeu que “a situação foi maquiada pela mídia. Eles não falam realmente o que aconteceu. Eu fiquei 5 meses chorando a destruição e rogando a Deus uma solução. Um dia acordei e pensei: vou fazer um livro”.

Na publicação, a autora relata os problemas que enfrentou após o rompimento da barragem. Desde a destruição de suas terras, até a negociação de indenização. Ela questiona a maneira como a tragédia foi noticiada e informa que há uma subnotificação dos números, como, por exemplo, de vítimas.

Contudo, Normalina afirma que não foi fácil divulgar os exemplares. “Eu publiquei a obra com a ajuda dos meus amigos. Cada um me deu um valor e a editora também me auxiliou. Entrei em contato com vários programas de TV e veículos de comunicação, mas todos ignoram completamente. O assunto foi esquecido”.

Ela acrescenta que nem mesmo as outras vítimas da tragédia se dispuseram a ajudá-la. “Todos têm medo. A Samarco é muito grande e 90% da população da cidade depende dela. Há uma pressão social. No lançamento quase ninguém foi. Distribui camisetas de divulgação e ninguém aceitou”.

“Só perdi”
Dentro da fazenda São José, que ficava a 5 km de Bento Rodrigues, também funcionava uma pousada. Normalina relata que, após o rompimento da barragem, suas terras ficaram lotadas de carro, geladeiras, fogões e resto de construções. “O gado que estava solto morreu. Contudo, os apartamentos de hóspedes, salão de festa e quiosque não foram afetados. Fiquei hospedada em um hotel e depois de 2 dias me telefonaram pedindo para tirar tudo que estava na fazenda, pois corria risco de contaminação”.

Após isso, de acordo com Normalina, a Samarco fez contato com ela a fim de alugar a fazenda. “Foi no dia 30 de janeiro de 2016. Apesar de não confiar, aluguei porque precisava de dinheiro, mas só em março eles fizeram o documento de aluguel. Não me pagaram e depois de 4 meses me mandaram R$ 5 mil. Atualmente, minha fazenda está sendo ocupada com máquinas, carros e trator, porém não me pagam. Em fevereiro de 2017, eles disseram que eu teria que procurar a Renova, mas ficou o dito pelo não dito, ninguém resolveu nada”.

Normalina questiona ainda o valor das indenizações pagas pela empresa. “Na última semana, eu recebi R$ 10 mil. Você perde 40 anos de trabalho aos 67 anos para ganhar essa quantia? As vítimas do acidente, assim como eu, recebem um salário mínimo e uma cesta básica por mês. É muito pouco. A empresa trata o assunto como se estivessem fazendo muito por nós, mas isso não é mais que a obrigação”.

Direito de resposta
A Samarco foi procurada pela nossa produção e alegou que, os responsáveis pela indenização e aluguel da fazenda é a empresa Renova, contudo, a Renova informou que essas ações são de responsabilidade da Samarco.