Os brasileiros são vaidosos, uma prova disso é que o país fica em segundo lugar no ranking dos que mais realizam cirurgias plásticas no mundo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas (SBCP), o Brasil possui em torno de 6 mil cirurgiões plásticos aptos a realizarem qualquer procedimento da especialidade, seja ele estético ou reparador. Contudo, um médico a cada dois que realiza os procedimentos não é especialista. Em 2016, 10 pessoas morreram por complicações após serem operadas por profissionais sem especialidade na área.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) – Regional Minas Gerais, Marcelo Vesiani, essas estatísticas merecem a atenção da população. “A pessoa precisa procurar fazer sua cirurgia, ou qualquer tratamento médico, com um especialista qualificado para aquele atendimento. Isso vai certificá-la de que aquele profissional tenha a formação necessária para o procedimento. Do contrário, elas estarão colocando a própria vida em risco”. De acordo com o SBCP, o tempo de estudo desse médico é de pelo menos 11 anos.
O Brasil registra em torno de 1,5 milhão de cirurgias plásticas por ano, sendo que 1 milhão são estéticas e 500 mil reparadoras. Nosso país só fica atrás dos Estados Unidos. Para Versiani, essa divisão dos tipos de procedimento não deveria acontecer. “Isso é inaceitável do ponto de vista médico, porque toda cirurgia plástica vai ser, ao mesmo tempo, embelezadora e reparadora. Quando os pais optam por uma cirurgia de orelha de abano (otoplastia), porque o filho sofre bullying na escola, por exemplo, ela é reparadora, mas não deixa de ser estética”.
Para ele, isso ocorre por uma questão mercadológica. “Acaba que existe um cunho financeiro por trás disso e faz com que transpareça uma coisa que não existe. Uma cirurgia plástica, apesar de ser um procedimento estético, não deve ser diminuída. Ela é uma operação como outra qualquer, tem seus riscos e exige cuidados”, afirma.
Processo
O presidente explica os passos que a pessoa deve seguir ao optar pela operação. “A princípio, a pessoa irá realizar exames laboratoriais, de rotina. Ela também passará por uma avaliação com um cardiologista ou um clínico para fazer o risco cirúrgico. Após os resultados, a gente obtém uma estratificação do risco da paciente e, então, é definido se ela pode, ou não, passar pela cirurgia”.
Ele elucida que não existe uma idade específica para a realização de um procedimento, mas que isso vai depender do que cada paciente quer. “É variável, a otoplastia, por exemplo, pode ser feita em crianças por questões emocionais. Mas, não é recomendado se colocar uma prótese de silicone em uma mulher que não desenvolveu toda mama ainda. Da mesma forma, uma paciente que quer diminuir a flacidez no rosto, provavelmente tem que ter uma idade mais avançada”.
A publicitária Gabriela Padilha, recentemente, colocou prótese de silicone. “Foi tudo muito tranquilo. Consultei com 4 médicos e operei com o que me deixou mais segura. Eu me certifiquei de tirar todas as dúvidas antes do procedimento e no dia eu estava super esclarecida. O meu corpo, hoje, não me permite ter o seio do jeito que eu queria, mas dentro das possibilidades, eu gostei bastante do resultado”.
Infelizmente, a esteticista Marcela Teixeira não teve a mesma sorte. Ela aponta que, após se recuperar da lipoescultura, percebeu que havia excesso de pele na barriga e coxa. “Já se passou um ano da minha cirurgia e, agora, farei outra para retirar a pele que ficou. Não esperava por isso e confesso que fiquei decepcionada, porque agora terei que gastar mais dinheiro, além de passar por todo o processo de novo”.
Contudo, o presidente da SBCP, esclarece que é muito difícil saber como ficará o resultado da cirurgia antes de realizá-la. “Vai depender do organismo da pessoa e de como ele vai cicatrizar. Isso, além de ser individual, não é controlável. Muitas vezes, a decepção acontece porque uma paciente viu uma amiga que operou e acha que ficará idêntico ao dela, mas não é assim. A grande questão da cirurgia plástica é essa, em muitos casos, a pessoa idealiza uma coisa que a medicina não pode proporcionar, simplesmente porque vai além do que é permitido”.
Para Versiani, cabe ao profissional acordar isso antes com o paciente. “É fundamental que o médico identifique um pouco essa expectativa exacerbada e mostre ao paciente os limites que ele deve respeitar com base no que a medicina proporciona. Se ele fizer isso de maneira adequada, na maioria das vezes, ele consegue trazer o paciente de volta a realidade. Em alguns casos, há até quem desista de passar pelo procedimento porque percebeu que o risco é maior do que se esperava”, conclui.