Não é novidade que o brasileiro não tem o hábito de ler. Pesquisas apontam que o índice de leitura é de 1,7 por pessoa a cada ano. A falta de costume e interesse pela atividade, tem grande impacto no mercado editorial. Segundo os dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), em 2016, o setor apresentou um recuo de 9,2%, considerando a inflação. Contudo, no acumulado do ano, houve queda no faturamento – desconsiderando a inflação – de 3,09%, totalizando R$ 1.567.426.940,03 ante R$ 1.617.406.694,27 de 2015.
O presidente do Snel, Marcos da Veiga, atribui esses números à crise econômica. “Ano passado foi muito difícil. Já começamos com a inflação acumulada acima de 10%, o índice de desemprego em níveis alarmantes e o PIB caindo. As pessoas não tinham perspectiva de melhora e nessas horas o livro é um bem que perde muito. O Brasil ainda precisa construir uma cultura de leitura, enquanto isso, há uma diminuição do consumo”.
Questionado sobre a facilidade de encontrar um exemplar na internet, Veiga não vê isso como uma motivação para a queda. “A leitura é um investimento de tempo, quando começamos um livro, dependendo de sua complexidade e ritmo, gastamos em média 3 a 20 horas. Com a internet além da pessoa ter acesso ao exemplar ele tem um leque de entretenimento e informações rápidas que irão competir com o ato de ler um livro”.
Mas, de acordo com ele, a pirataria de livros ainda é um problema a ser resolvido. “Não podemos minimizar isso. Temos um trabalho permanente a fim de combater esse mal. E uma das principais medidas para isso é oferecer o livro a um preço mais acessível para o consumidor”. O valor médio de um livro, de acordo com o estudo do Sindicato, é de R$ 39,77, preço considerado alto para algumas pessoas. Veiga aponta que esse pensamento está estabelecido pela sociedade. “O custo do livro é um dos maiores problemas da nossa indústria. Mas, a verdade, é que a maioria das pessoas que acham caro, nem tem o hábito de ler. O livro diminuiu muito de preço nos últimos anos. Se compararmos, 10 anos atrás, a média era de R$ 32. Então, em uma década, o valor não teve um aumento significativo”.
Para ele, é preciso um maior estímulo do consumo. “Eu sempre digo que existe uma diferença muito grande entre o valor e o preço. Muitas vezes procuramos saber só o preço de um exemplar, mas nosso papel é mostrar o valor dele em comparação com as outras mídias. Porque a única maneira que temos para ter uma oferta mais acessível é aumentando a demanda e, consequentemente, a leitura. O Snel está trabalhando em uma campanha de motivação que será lançada no meio do ano”.
Aumentar o consumo, é essencial para que novos autores sejam ingressados no mercado. “Num ambiente recessivo, o editor vai querer correr menos riscos, apostando em autores tradicionais que já tem um histórico. Nesse sentido, a internet se torna aliada do escritor. Hoje, existe um canal muito acessível para novos autores, que podem publicar seus livros de forma digital. Isso dará a ele uma primeira experiência para ver se terá sucesso e interesse do público. Isso será importante na hora de encontrar uma editora”, explica.
Na contramão do mercado
O jornalista mineiro Emanoel Ferreira, 25, recentemente lançou seu primeiro livro: “Já tomei uns tragos de poesia e prosa pra amaciar a tristeza”, e conta que mesmo com o mercado em queda, não se preocupou. “Não fico receoso a respeito do faturamento, porque estou começando uma longa caminhada. Existem pesquisas que apontam que um escritor começa a ser reconhecido depois do quinto livro, então, particularmente, não tenho essa ambição. Eu quero escrever. Se meu livro e os textos que produzi de alguma forma representar ou traduzir alguma coisa na vida de quem o lê, então ótimo, já ganhei”, afirma.
Contudo, ele diz que o mercado editorial não foi acolhedor. “A média de leitura no Brasil é muito baixa. É difícil fazer literatura aqui, ainda mais em crise. Não dá pra viver da nossa escrita, precisamos sempre de outra carreira para garantir a renda mensal. Em outros países, existe até ensino superior para escritores. Pessoas que, além de lançar seus livros, dão palestras e aulas referentes à leitura”.
Mas, Emanoel já trabalha em novos projetos e pretende lançar ainda esse ano. “Estou me propondo novos desafios e pretendo lançar um romance. Escrever para mim é uma necessidade, todo mundo que ama escrever tem essa sensação. Hoje em dia, um jovem pode fazer de tudo. E a literatura é uma dessas coisas. A diferença dela é que você faz, não porque leva jeito, mas porque precisa extravasar sentimentos, pensamentos”, conclui.
Segundo o site Publishnews, neste ano, entre os três livros mais vendidos no Brasil, apenas um é nacional. São eles: O homem mais inteligente da história, de Augusto Cury – (brasileiro); Harry Potter e a criança amaldiçoada, escrito por Jack Thorne baseada na história da autora J. K. Rowling e Quatro vidas de um cachorro, de Bruce Cameron, títulos aclamados pela mídia e super divulgados. Entretanto, entre os 10 mais vendidos, sete são nacionais, apontando que os autores brasileiros estão sendo mais reconhecidos e valorizados no país.