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70% dos brasileiros assumem que tomam remédio por conta própria

46% das pessoas aumentam a dose caso o medicamento não faça efeito. (Foto: divulgação)

Quem nunca sentiu um mal-estar e, com base nos sintomas, tomou um remédio que tinha no armário? O hábito da automedicação está cada vez mais presente na vida do brasileiro. Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ) apontou que 70% da população assume se automedicar.

Em Belo Horizonte, a história não é muito diferente: 62% dos moradores admitem o hábito, sendo que 46% deles aumentam a dose caso o remédio não faça efeito imediato e 30% preferem pesquisar os sintomas na internet ao invés de procurar auxílio médico.

O presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica – Regional Minas Gerais (SBCM-MG), Oswaldo Fortini, explica que a automedicação é um perigo, pois a doença pode ficar omitida. “Na maioria das vezes, a pessoa toma um remédio baseado no que está sentindo e ele faz efeito apenas nos sintomas e não na doença em si. Isso pode fazer com que o problema fique escondido, pois os sinais foram sanados com o medicamento. Além disso, a pessoa não saberá qual é a dosagem correta e a quantidade ingerida é fundamental para o sucesso do tratamento”.

Fortini alerta também que: “Às vezes, a pessoa já toma uma medicação controlada e ao usar qualquer outro remédio, sem prescrição, pode ter sérias complicações. Um pode cortar o efeito do outro, além disso, a pessoa pode ter reações alérgicas, intoxicações e até mesmo morrer”.

“Dr. Google”

Para Fortini, um grande problema da atualidade é que muitos pacientes preferem procurar mais sobre qualquer doença na internet ao invés de ir ao médico. “As pessoas tem a informação, mas não possuem o conhecimento. Por isso, pesquisar os sintomas na internet ajuda, pois pode esclarecer dúvidas, entretanto, também atrapalha, já que os indivíduos leem um artigo e acreditam que entendem tudo de determinada patologia, não é bem assim. Leva pelo menos 8 anos para alguém se tornar médico, logo, não é um site que vai dar a solução. Além do mais, vários desses portais não tem base científica”.

Facilidade x Perigo
O presidente da SBCM-MG conta que a dificuldade ao acesso de uma consulta médica é um dos fatores que leva às pessoas a automedicação. “Os grandes planos de saúde têm dado alternativas como marcar consultas pelo telefone, internet e até mais espaço para atendimento. O SUS, por sua vez, deveria fazer o mesmo, mas infelizmente não é o que acontece”.

Fato que comprova isso é que a body piercer Maitê Machado, diz  se automedicar e acrescenta que ficou 7h esperando para ser atendida em um hospital particular. “Com a rotina que levo, é impossível demandar todo esse tempo, então é muito mais fácil ir até a farmácia e comprar um remédio. Inclusive, já comprei até mesmo antibiótico sem receita, mas fiquei com medo de tomar o remédio”.

Lamentavelmente, esse tipo de situação é tão corriqueira que Fortini acredita que deveria haver mais controle em cima das vendas de medicamentos. “No mundo inteiro os remédios mais usados são anti-inflamatórios, analgésicos e antitérmicos, muitos deles têm potenciais de complicação e precisam ser controlados para limitar os problemas que podem surgir”.

A assessora técnica do Conselho Regional de Farmácias de Minas Gerais (CRF/MG), Danyella Domingues, afirma que há um rigoroso controle em cima da venda de medicamentos. “Os remédios controlados e antibióticos só devem ser vendidos mediante a prescrição médica, porém, existem comerciantes que tentam burlar o sistema. Por isso, é essencial que o próprio paciente tenha a consciência do risco que corre ao fazer o uso errado de uma medicação”.

Fiscalização
Danyella comenta o controle é feito pelo CRF com base nos grupos de medicamentos. “Os remédios são divididos entre livres, que são os que não precisam de receita; controlados, os que a pessoa já toma, porém com prescrição médica e os antimicrobianos, que são antibióticos, que precisam de prescrição”. Com base nisso, é feita a administração da venda. “É necessário que o estabelecimento tenha um farmacêutico durante todo o seu período de funcionamento e esse profissional é responsável pela compra, aquisição e controle da venda. Quando a farmácia recebe uma determinada prescrição, ela precisa notificar à vigilância sanitária de que esse medicamento foi vendido”.

No entanto, o vigilante sanitário Paulo Nogueira, ressalta que existem dificuldades nesse processo explicado pela assessora técnica do CRF/MG. “É difícil conseguir fiscalizar porque não temos o poder de produzir provas, antes de chegar ao local eu tenho que me identificar, assim, ainda que aquele estabelecimento forneça medicamentos de forma irregular, com a presença do vigilante, eles vão se recusar a vender”. E não é só isso, ele explica que mesmo que sejam feitas denúncias, eles não poderão agir. “Ainda que nos apresentem provas, como vídeos, fotos etc, isso não adiantará para atuarmos o estabelecimento. A vigilância não é polícia. Temos uma limitação que é o fato de não conseguirmos flagrar a venda irregular. A única forma de acompanhar a venda é com retenção de receita – controlados -, pois conseguimos saber o que foi vendido e o que está no estoque. Deste modo, é possível confirmar a irregularidade”.

É importante esclarecer que também é feito um controle dos remédios que não necessitam de receita médica por meio de campanhas publicitárias. “Nenhuma ação pode induzir a pessoa ao consumo. Nós orientamos a todos de que é preciso o auxílio do farmacêutico, que está apto para indicar medicamentos ou até mesmo indicar um médico para o paciente”, conclui Danyella.