Na última semana, o Brasil perdeu a gargalhada icônica de Wagner Domingues Costa, o Mr. Catra, vítima de câncer no estômago. Diagnosticado em 2017, segundo o próprio cantor de 49 anos, ele fazia quimioterapia, passou a se alimentar de forma mais saudável, parou de beber e diminuiu drasticamente o consumo de cigarro. “Estou pagando a conta e ela é cara”, disse em entrevista a um canal de TV, em abril deste ano.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer no estômago, também chamado de câncer gástrico, é o sexto tipo mais comum no Brasil. Em 2018, 13.540 novos casos foram registrados.
Rachid Nagem, especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo e em Cancerologia Cirúrgica e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, informa que em estágios iniciais, a chance do paciente estar vivo pelos próximos 5 anos é de 90%. Porém, quando a doença está alastrada cai drasticamente para 10%. “A maioria dos pacientes chegam em estágio avançado, em média, a sobrevida é em torno de 20 a 25%. O resultado não é bom”, avalia.
Não há sintomas certeiros. Sinais como emagrecimento, perda de apetite, fraqueza, empachamento (sensação de estar empanzinado, mesmo tendo comido muito pouco) e dor na “boca do estômago” persistentes podem indicar uma doença benigna (úlcera, gastrite, etc.), mas também são os principais sintomas de um tumor no estômago. Em estágios avançados, podem surgir caroços na barriga e no pescoço.
“Nenhum sintoma deve ser ignorado, menos ainda quando mais de um desses sinais são identificados”, esclarece Nagem.
Fatores de risco
De acordo com Nagem, as três principais causas de câncer gástrico são: genética, fatores ambientais e infecção por Helicobacter pylori, uma bactéria que, quando presente no estômago em altas porcentagens, aumenta as chances de câncer.
Quando genético, pessoas que tiveram pais ou parentes próximos com câncer de estômago, precisam estar mais alertas. “Principalmente, se elas tiveram câncer jovens. É necessário acompanhamento com endoscopia. Se tiver condições, o ideal é que se faça o teste genético”, explica.
Os fatores ambientais são os que a pessoa adquire ao longo da vida. Tabagismo, alcoolismo e uma alimentação com excesso de sal e embutidos (enlatados, linguiças, salsicha e todos os alimentos que são conservados em sal) são as maiores causas do câncer de estômago.
Tratamento e cura
No Brasil, a endoscopia é o único exame capaz de identificar doenças gastrointestinais. Bem diferente do panorama no Japão, país onde a prevenção e a detecção precoce é realizada de maneira global, como exemplifica Nagem. “Lá, existe rastreamento em massa por meio de ônibus que realizam exames radiológicos, ou seja, eles não esperam a pessoa ter sintomas. A maioria dos cânceres que eles operam estão em estágios iniciais”.
O tratamento, basicamente, é a cirurgia de gastrectomia (retirada de parte do órgão). “Os pacientes que se curaram foram com gastrectomia e a quimioterapia”. Quando não pode ser operado mantém-se os métodos paliativos, como a quimioterapia e a radioterapia.
Prevenção
A enfermeira Cíntia Oliveira realiza, periodicamente, exame de endoscopia para monitorar a presença de H. pylori no estômago. Em janeiro deste ano, ela estava com uma úlcera e uma lesão no esôfago. “O médico me disse que se o tratamento não fosse seguido rigorosamente, em pouco tempo, poderia evoluir para câncer no estômago”.
O quadro dela está controlado. “Com antibióticos e dieta adequada, a bactéria some e fico bem. Depois de um tempo, ela volta de novo. Tenho dores fortes no estômago, arrotos constantes, queimação da boca até o estômago e tudo que como, o organismo não aceita”.
A enfermeira mudou os hábitos alimentares e não faz uso de medicamentos atualmente. “Às vezes, cuidamos das pessoas, como na minha profissão, e esquecemos de tratar nós mesmos. Deixamos até de beber água”, finaliza.