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Número de leitores no Brasil diminuiu em 6,7 milhões nos últimos quatro anos

Foto: Freepik.com

O país enfrenta uma preocupante queda no número de leitores, conforme aponta uma pesquisa divulgada recentemente. De acordo com o “Retratos da Leitura no Brasil”, 53% dos participantes não leram sequer uma parte de um livro nos três meses anteriores à pesquisa. Ao levar em conta somente os livros inteiros lidos, o percentual de leitores é ainda menor: 27%. O levantamento considera tanto a leitura de livros impressos quanto digitais, além de não restringir qualquer gênero, incluindo didáticos e religiosos.

A quantidade de pessoas que não leem, registrado em 2024, aumentou cinco pontos percentuais em comparação a 2020, que era a edição mais recente da pesquisa. Este ano, os dados revelam o maior número de “não-leitores” desde o início da série histórica. Pela estimativa populacional do Brasil, o país possui atualmente 93,4 milhões de leitores (considerando a população de cinco anos ou mais). Nos últimos quatro anos, o número diminuiu em 6,7 milhões.

O interesse pela leitura diminui conforme a idade aumenta. Entre as crianças de 5 a 10 anos, 38% afirmam ler por prazer. Já na adolescência e até os 24 anos, esse percentual varia entre 31% e 34%. A maior parte dos entrevistados (85%) aponta a própria residência como o principal local de leitura. No entanto, os pesquisadores observaram uma diminuição na percepção da escola como um ambiente para a leitura. Em 2007, 35% dos participantes mencionaram a escola como o local onde costumavam ler livros. Esse número caiu para 33% em 2011, 25% em 2015, 23% em 2020, e agora, em 2024, alcançou 19%, o menor índice registrado até o momento.

Para a professora de literatura, Magna Ribeiro, nos últimos anos, houve uma mudança no comportamento de consumo de mídia. “O avanço das plataformas digitais, como redes sociais, serviços de streaming e podcasts, têm sido os novos ‘concorrentes’ da atenção das pessoas. Cada vez mais, os brasileiros têm consumido conteúdo em formato audiovisual, como séries, filmes e vídeos curtos, que oferecem entretenimento rápido e acessível, afastando-se da leitura de livros”.

“A crise econômica e a alta de preços dos livros dificultam o acesso à leitura. Livros impressos, especialmente os de qualidade e das editoras tradicionais, podem ter preços elevados, o que desestimula a compra. A desigualdade educacional também faz parte do problema, apesar dos avanços na educação nos últimos anos, o Brasil ainda enfrenta altos índices de analfabetismo funcional”, completa.

Segundo Magna, iniciativas como o aumento do número de bibliotecas públicas, programas de incentivo à leitura em escolas e a promoção de feiras literárias podem estimular o hábito da leitura. “Projetos que envolvam livros infantis e literatura infantojuvenil são essenciais para promover a leitura como uma atividade prazerosa, não apenas como parte das obrigações escolares. Expandir e melhorar a infraestrutura de bibliotecas públicas, tornando-as mais modernas e atrativas, pode ser uma estratégia igualmente importante”.

Com o crescimento do uso de dispositivos móveis e a digitalização de conteúdos, é importante ampliar o acesso a livros digitais e audiolivros. “Tornar os livros mais acessíveis, seja por meio de subsídios, descontos ou programas de venda a preços populares e utilizar essas opções digitais, que deixam a leitura mais acessível e prática, especialmente para quem tem uma rotina apertada, o que pode ser um problema também”, reforça Magna.

A pedagoga Beatriz Lima destaca que a falta de hábito de leitura na infância pode ter um impacto significativo no desenvolvimento de uma criança, prejudicando não apenas suas habilidades cognitivas e acadêmicas, mas também seu futuro pessoal e profissional. “A capacidade de concentração, compreensão de texto e o pensamento crítico podem ser afetados, além da deficiência na ampliação do vocabulário e redução da criatividade e imaginação. Em longo prazo, a ausência de uma boa base de leitura atrapalha o desempenho em concursos, vestibulares e exames de proficiência, limitando o acesso a melhores oportunidades educacionais e de trabalho”.

“A leitura deve ser uma atividade estimulada dentro de casa. Programas de incentivo à leitura devem ser direcionados também às famílias, principalmente aquelas com menos acesso a livros, para que os pais e responsáveis possam criar o hábito de ler para seus filhos”, finaliza.