O último mês do ano, marcado mundialmente como o “Dezembro Vermelho”, é dedicado à conscientização sobre o HIV/Aids, promovendo campanhas educativas para a prevenção, o diagnóstico precoce e a redução do estigma relacionado ao vírus. Segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), atualmente, no mundo, existem 39,9 milhões de pessoas vivendo com HIV, mas quase um quarto delas (9,3 milhões) não tem acesso ao tratamento adequado. Isso resulta em uma morte a cada minuto devido a complicações relacionadas à Aids.
De acordo com o relatório da instituição, os líderes globais se comprometeram a reduzir o número de novas infecções anuais para abaixo de 370 mil até 2025. No entanto, em 2023, o total de novas infecções foi de 1,3 milhão, mais de três vezes superior à meta estabelecida. Porém, o aumento no acesso ao tratamento do HIV contribuiu para uma queda de cerca de 50% nas mortes relacionadas à Aids, que passaram de 1,3 milhão em 2010 para 630 mil em 2023. Além disso, o relatório do Unaids revela que a porcentagem de pessoas com acesso ao tratamento antirretroviral subiu de 47% em 2010 para 75% em 2023.
Já no Brasil, o Ministério da Saúde relatou que aproximadamente 8% das 904 mil pessoas diagnosticadas com HIV/Aids em 2023 não receberam o tratamento adequado para reduzir a carga viral. Além dos que não procuram tratamento, existe um grupo adicional de 16% que o inicia, mas não dá continuidade.
A transmissão ocorre principalmente através do contato sexual desprotegido (vaginal, anal ou oral) com uma pessoa vivendo com HIV. Além disso, pode ser transmitido pelo compartilhamento de materiais cortantes ou perfurantes contaminados, como agulhas e alicates. Também é possível que a transmissão aconteça de mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação, quando a mãe é soropositiva e não recebe tratamento adequado.
Controle da doença
Para o infectologista Luis da Costa, um dos maiores desafios para o controle da doença no Brasil é o estigma da sociedade. “A associação do HIV à população LGBTQIA+ e a desinformação sobre métodos de prevenção, como o uso do preservativo e da profilaxia pré-exposição (PrEP), contribuem para o aumento de novas infecções. Embora os jovens estejam mais informados, muitos ainda têm comportamentos de risco, como a não utilização de preservativos durante relações sexuais. Isso se reflete em uma grande incidência de casos entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos”.
“Além disso, 53% de todas as pessoas que viviam com HIV no mundo em 2023 eram mulheres e meninas, muito dessas transmissões podem acontecer através dos próprios parceiros, por isso a importância do uso do preservativo, ou por casos de violência sexual”, explica.
Segundo Costa, nos últimos anos, houve progressos significativos na medicina, tornando o tratamento do HIV cada vez mais eficaz e acessível. “A terapia antirretroviral (TARV), que ajuda a reduzir a carga viral no corpo e impede a transmissão do vírus, tornou-se mais simplificada e menos tóxica, com menos efeitos colaterais. Outro avanço importante foi a implementação da profilaxia pós-exposição (PEP) e da PrEP, ambas estratégias para prevenir a infecção”.
“A PEP, quando iniciada logo após a exposição ao vírus, pode evitar a infecção, enquanto a PrEP, indicada para pessoas em maior situação de vulnerabilidade ao HIV, têm mostrado altos índices de eficácia. No Brasil, essas duas formas de prevenção são oferecidas gratuitamente pelo SUS”, completa.
Um dos obstáculos também é o acesso desigual ao tratamento, que pode variar de acordo com a região, a disponibilidade de medicamentos e a capacitação dos profissionais de saúde. “Em algumas áreas do país, especialmente em regiões periféricas e rurais, há dificuldades no diagnóstico precoce e na adesão ao tratamento contínuo. É essencial que as políticas públicas atendam essas áreas e continuem a focar na educação sexual nas escolas, nas campanhas de conscientização e na ampliação da cobertura da PrEP, principalmente entre os grupos mais vulneráveis”, conclui.
Ignorância e preconceito
O gerente de marketing, Pedro Castanheira, relata que a ignorância sobre o vírus deve ser combatida. “Quanto mais falarmos sobre, mais as pessoas vão procurar saber o que é e se testarão mais. Acredito que esse é o caminho para uma diminuição na infecção. Quando recebi o diagnóstico fiquei com medo e envergonhado, mas hoje sou indetectável e vivo uma vida tranquila. Enquanto não há uma cura, temos que focar na prevenção e garantir o acesso aos tratamentos corretamente”.