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50 mil empresas pagam as mulheres 20,7% a menos do que os homens

A diferença salarial de gênero registrou alta no país – Foto: Freepik.com

As trabalhadoras mulheres ganham 20,7% a menos do que os homens, em 50.692 empresas com 100 ou mais empregados no Brasil, foi o que revelou o 2º Relatório de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios. O documento apontou que houve aumento na diferença salarial de gênero, na comparação ao primeiro relatório, divulgado em março deste ano, que indicava o índice de 19,4%.

Ainda segundo o estudo, nas empresas com 100 empregados ou mais, os trabalhadores homens ganhavam, em média, R$ 4.495,39, enquanto as mulheres recebiam R$ 3.565,48. O documento considerou os dados informados pelos empregadores na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2023. A advogada especialista em direito do trabalho, Cibele Lopes, conversou com o Edição do Brasil sobre o tema.

Qual é o impacto desse índice na sociedade brasileira?
O fato de as mulheres ganharem 20,7% menos do que os homens, em empresas de grande porte, revela uma desigualdade que afeta não apenas a economia individual das pessoas do sexo feminino, mas também a do país como um todo. Essa disparidade salarial perpetua a desigualdade de gênero, limitando o acesso a recursos financeiros, oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal.

Além disso, essa diferença pode contribuir para a pobreza, especialmente entre as mães solos, e reduzir o consumo e a força de trabalho disponível, o que afeta na produtividade e crescimento do país. A longo prazo, essa situação pode também influenciar a educação das próximas gerações, já que as genitoras, com menor poder aquisitivo, podem ter menos recursos para investir na educação e bem-estar de seus filhos.

O que as empresas devem fazer para diminuir esses números?
Realizar auditorias regulares para identificar as disparidades salariais; promover a transparência salarial; implementar políticas que garantam remuneração igual para o trabalho análogo; treinamentos nas equipes para que o ambiente seja mais justo e inclusivo; ter uma liderança comprometida com a igualdade de gênero; e a criação de canais de comunicação específicos para denúncias em caso de discriminação salarial.

Quais medidas o governo deve tomar para mudar essa realidade?
Educação social desde a infância, de modo a enfatizar a importância na igualdade de gênero; incentivar a transparência salarial nas empresas, bem como políticas que garantem a remuneração igualitária independente do sexo; fiscalização e aplicação das leis. Além do cumprimento do Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral entre Mulheres e Homens, cujas atuações são voltadas à ampliação e permanência delas no mercado, promoção a cargos de direção e gestão, e ao combate às discriminações no local de trabalho.

A Lei da Igualdade salarial entre mulheres e homens, criada no ano passado, está conseguindo reduzir essa desigualdade?
Sim, na medida em que a legislação impõe normas para que as empresas apresentem um plano para corrigir as distorções salariais, bem como a aplicação de multa.

Qual é a importância da igualdade salarial de gênero?
A igualdade garante que todos os funcionários sejam remunerados de forma justa e sem discriminação, de acordo com o seu desempenho e responsabilidades. Além do mais, é um passo crucial para eliminar a discriminação de gênero no ambiente de trabalho. Entendemos que dessa forma estimula a economia, equalizando o poder de compra. A desigualdade salarial é um problema complexo que requer ação conjunta de empresas, governo e sociedade, com comprometimento e medidas eficazes.

Analisando o cenário atual, você considera que o país vai demorar muito ou pouco para conseguir a igualdade salarial?
O Brasil enfrenta um desafio significativo para alcançar a igualdade salarial entre gêneros. Embora existam movimentos e legislações em prol da igualdade, as mudanças estruturais muitas vezes são lentas. Se as empresas e o governo se comprometerem com medidas eficazes e sustentáveis, é possível que haja progresso em um período razoável. No entanto, se a situação continuar a ser negligenciada, as mudanças podem demorar mais tempo do que o desejado. A conscientização social e a pressão pública também são fundamentais para acelerar esse processo.