Dados de uma pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada pelo Todos Pela Educação, revelam que 7 em cada 10 jovens, entre 14 e 16 anos, que iniciaram o 1º ano do ensino médio em 2024, afirmaram que pretendem estudar e trabalhar durante a etapa de ensino.
O levantamento destaca também que 20% dos estudantes não estudam em tempo integral para ter independência financeira e 13% para ajudar a família. Segundo o Censo Escolar 2023, 20,4% dos alunos do ensino médio estavam em escolas de tempo integral. Para debater esse assunto, o Edição do Brasil conversou com o sociólogo, professor e analista educacional Sênior da Unniversa, Flávio Pimenta.
Cerca de 33% dos estudantes não estudam em escolas de tempo integral por situações relacionadas a trabalho. Como o governo pode resolver esse problema e não causar aumento da evasão escolar?
Uma das soluções para essas dificuldades passa pelo mapeamento sistemático do público, do entorno da escola, dos objetivos individuais e coletivos, para identificar o melhor modelo a ser instalado em cada unidade educacional, distribuindo assim a demanda. Pois, é recorrente os jovens abandonarem a escola com o sentimento de desamparo e falta de compreensão de suas realidades.
O programa Pé-de-Meia é a melhor solução?
Em parte, vai auxiliar na evasão escolar, mas definitivamente não resolve o problema. O programa pode beneficiar o aluno sem muitas perspectivas, onde os R$ 200 mensais podem dissuadi-lo do abandono dos estudos, mas dentro de uma lógica de mercado, o “Jovem Aprendiz” paga de R$ 642 a R$ 1.155 ou até mesmo um emprego com base na CLT que remunera, pelo menos, R$ 1.412. O jovem vai ponderar em sua escolha pelo simples fato de que o salário mínimo é superior ao valor pago pelo Pé-de-Meia, e dependendo da necessidade de cada estudante, um ganho maior pode convencê-lo a abandonar os estudos.
O Pé-de-Meia tem mais pontos para serem melhorados ou mais aspectos positivos?
Ele tem uma finalidade positiva, porém, tem que fazer parte de um programa gradual, onde jovens de 14 a 16 anos recebam o benefício e tenham instruções profissionalizantes, não necessariamente cursos técnicos, mas oficinas de ofícios, no qual os investimentos são maiores e requerem complexos planejamentos pedagógicos. E que durante as instruções, o próprio poder público ou as escolas possam encaminhar os estudantes para as empresas e instituições conveniadas, monitorando e acompanhando até a sua inserção definitiva no mercado do trabalho.
A pesquisa mostrou que 72% dos estudantes pretendem trabalhar e estudar. A fórmula de ensino integral é a melhor opção para a educação brasileira?
O ensino integral seria de grande importância para uma formação mais completa do estudante brasileiro, porque estas instituições deixariam de ser simples unidades educacionais para se tornarem Centros Educacionais de Formação. Porém, esse modelo estaria mais voltado para a formação crítica do cidadão e, muitas vezes, o mercado de trabalho não está interessado em empregados com tais características. Debates sobre a educação, programas de benefícios sociais, formação e mundo do trabalho ainda devem cumprir as fases de amadurecimento e ajustes.
O novo ensino médio foi modificado recentemente. Você acredita que esse projeto será mais aceito pela sociedade?
O currículo do Novo Ensino Médio de 2024 ainda não está em um debate público massificado, poucos pais têm conhecimento do novo modelo e os professores e alunos estão se adequando. No entanto, tem-se percebido que os educandos ainda estão confusos com o objetivo da proposta e possuem dificuldades de se organizar com a quantidade de disciplinas implementadas. O debate atual é que nem sempre “mais é melhor”, sendo que a quantidade prejudicou a qualidade.
Essas alterações no currículo eram necessárias nessa etapa de ensino?
Reformas curriculares são fundamentais, pois adequa, a todo o momento, para as necessidades das novas gerações de estudantes em um mundo em constante mudança. E outros assuntos e temáticas importantes devem ser colocados nas mesas de debate.