De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2022, o Brasil produziu aproximadamente 81,8 milhões de toneladas de resíduos nas áreas urbanas. O montante corresponde a 224 mil toneladas diárias. Com isso, cada brasileiro produziu, em média, 1,043 kg de detritos por dia e 380 kg de lixo por ano.
A região com maior geração de resíduos continua sendo a Sudeste, com cerca de 111 mil toneladas diárias, aproximadamente 50% da geração do país. Para debater esse assunto, o Edição do Brasil conversou com Pedro Maranhão, presidente da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema).
Os números da produção de lixo do ano passado foram menores que em 2021. Como podemos explicar essa baixa?
A edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil de 2022 indica que a geração de resíduos sólidos urbanos (RSU) nos domicílios brasileiros sofreu uma queda de 1% em relação a 2021, registrando 82,6 milhões de toneladas/ano. Esse declínio é reflexo das mudanças econômicas e comportamentais provocadas pela pandemia da COVID-19.
O que pode motivar a queda desse índice?
O declínio na geração de resíduos pode ser motivado, por exemplo, pela consciência de consumo, assim como pela escolha de uma embalagem que acondiciona maior quantidade de um produto e/ou que possa ser reaproveitada. No entanto, há uma questão inerente ao aumento da geração de resíduos, que é o crescimento do poder de compra do consumidor. Historicamente, quando a economia de um país vai bem, com o índice de inflação e juros controlados, naturalmente o consumo cresce. E daí a importância de estabelecer as metas de reaproveitamento dos resíduos gerados, assim como seu cumprimento e o envio de apenas rejeitos para aterros sanitários.
Na sua opinião, a relação da sociedade brasileira com o lixo doméstico tem que mudar?
Costumo dizer que ‘lixo não é mais lixo’. Com os avanços e inovações do setor de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, hoje temos um maior aproveitamento e valorização dos resíduos. Em uma ponta estão coletores e catadores, que conseguem uma renda para sobreviver, na outra estão as indústrias de triagem e transformação, que utilizam essas matérias-primas para elaborar novos produtos.
A pesquisa mostrou que houve uma cobertura de 93% na coleta dos resíduos. Nesse quesito, ainda existem pontos que precisam ser melhorados no país?
Essa porcentagem, à primeira vista, impressiona bem. No entanto, os 7% da população que ficou sem ser atendida pelo serviço de coleta corresponde a uma população maior que a da Bélgica e que está sem proteção à saúde pública e ao meio ambiente. Esse quadro torna-se ainda mais grave se considerarmos que 39% dos resíduos coletados ainda são enviados para áreas de disposição inadequada (aterros controlados e lixões).
Somente 4% dos resíduos sólidos são reciclados. Quais são os fatores que dificultam o aumento desse indicador?
Embora o país tenha grande potencial para aumentar a reciclagem, diversos fatores mantêm esses índices estagnados, a começar pela falta de conscientização e de engajamento do consumidor na separação e descarte seletivo de resíduos. Também é preciso destacar a carência de infraestrutura das prefeituras para permitir que esses materiais retornem para o ciclo produtivo, com potencial de recuperação.
Quais ações seriam necessárias para melhorar as taxas de reciclagem no país?
É essencial a conscientização e engajamento do consumidor na separação e descarte seletivo de resíduos. Há também políticas públicas, como o decreto federal que criou o programa “Recicla+”, de 2021, que gera créditos para a reciclagem e estímulo a esse mercado. Além disso, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) determina o aumento crescente da recuperação de resíduos e estabelece meta de 50% de aproveitamento, em 20 anos. Assim, metade do lixo gerado passará a ser valorizado por meio da reciclagem, compostagem, biodigestão e recuperação energética.