Nos séculos 17 e 18, os caminhos de Minas foram construídos por ordem da coroa Portuguesa, localizando-se a partir dos atuais municípios de Duque de Caxias, Magé, Petrópolis e Miguel Pereira. Os trechos ligavam o Rio de Janeiro ao interior do país e por eles circulavam as mercadorias que eram enviadas à metrópole. Daqui eram especialmente levados o ouro, diamantes e o gado, o que trouxe significativas mudanças em nossa história. Era a substituição do ciclo do açúcar pela extração do mineral precioso, o que fez com que a Capital do Império Brasileiro modificasse geográfica, política e economicamente. Se por um lado fortaleceu o sistema colonial, por outro fez com que as elites mineiras lutassem por mais autonomia, como o exemplo da Conjuração Mineira, episódio que teve Tiradentes como mártir. Tempos da Estrada Real que levava nossos tesouros e nos trazia sonhos de liberdade.
No século 20, um projeto estratégico de governo ficou marcado pela frase de seu autor: “Governar é abrir estradas”, que resumia o binômio de seu plano de ação – Energia e Transportes. Juscelino Kubitschek, com seu poderoso dínamo de transformação, bem cumpriu seu propósito, de fazer em cinco anos os avanços correspondentes a cinquenta anos de progresso. Nosso país experimentou um forte ritmo de obras rodoviárias, além da construção de sua capital no interior e a industrialização, especialmente em São Paulo. Desde então, o Brasil passou a ser notado como uma nação próspera e foco de investimentos internacionais.
No entanto, o tempo passa de forma cruel e de país do futuro passamos a ser os perdedores de oportunidades internacionais de atração ou de manutenção do crescimento então proposto. Erramos, enquanto nação continental, na tomada da melhor escolha de logística com o abandono da malha ferroviária. E o pior, o desleixo na manutenção das rodovias construídas ou suas adaptações aos novos tempos. Raros períodos podem ser apontados como relevantes na construção de novas rodovias, ou conservação das existentes, como o tempo de Eliseu Resende à frente do Ministério dos Transportes.
Tive o privilégio de trabalhar com ele, de quem ouvi muitas vezes a afirmação de que a seu tempo construiu mais de 60% das atuais rodovias brasileiras, que hoje totalizam 75 mil quilômetros, sendo 65 mil de estradas asfaltadas e 10 mil de estradas de terra. E aí está a pior notícia, o abandono em que se encontram, especialmente em Minas Gerais. Não se trata apenas das estradas estaduais, para as quais, em boa hora, o governo estadual anuncia um grande programa de recuperação, depois de 8 anos de desleixo e buracos.
O pior abandono é das rodovias federais, como a BR-262, BR-361 e BR-101, causadoras de graves prejuízos materiais e principalmente vidas humanas. Um caso recente aconteceu próximo à Uberlândia, na BR-262, quando uma carreta ao desviar-se do imenso buraco na pista bateu de frente em um pequeno veículo de passageiros, matando três pessoas. Um lamentável fato, entre tantos registrados pela imprensa.
Um amigo, o Antônio José e família, morador de Campo Grande, recentemente fez a aventura de vir de carro a Minas e seu relato é incrível e assustador. A perda de pneus e riscos de vida os deixaram perplexos. Em Mato Grosso e Goiás a qualidade das estradas federais, especialmente a BR-262, pode ser considerada ótima se compararmos com o trecho mineiro, segundo ele. Importante registrar que o turismo em Minas cresceu 17,5% em relação ao mesmo período do ano passado, feito principalmente por rodovias, já que voos para nossas cidades históricas quase não existem. Será a perda de nosso prestígio nacional a razão deste abandono?