O desafio de minimizar o problema do transporte coletivo de Belo Horizonte tem frequentado a agenda dos prefeitos que comandaram a cidade na última década. A situação que já era delicada, agora, tende a ficar cada vez mais complexa, porque a oposição faz questão de pressionar por uma solução, quase sempre usando o Poder Legislativo, sem levar em consideração que as políticas públicas para o setor são de responsabilidade do Executivo.
Atualmente, segundo os últimos dados oficiais, aproximadamente um milhão de passageiros usam os coletivos na capital mineira, diariamente, ao preço de R$ 4,50. O tema já escalou um debate acirrado entre o presidente da Câmara de Vereadores, Gabriel Azevedo, e o prefeito Fuad Noman (PSD). A demanda envolve grande parte da população que precisa ir de um ponto a outro na cidade, com um sistema de transporte cada vez mais complexo. A mobilidade urbana é de interesse direto dos usuários, mas o víeis da discussão, ao menos nos últimos dois anos, tem sido eminentemente político e de pretensão eleitoreira.
Os especialistas dizem se tratar de um fenômeno mundial. Para esses técnicos, o poder público, inclusive de alguns países europeus, já subsidia esse sistema de transporte. E eles alimentam a sugestão para que, também por aqui, existe a necessidade de financiamento ainda mais expressivo do custo dos bilhetes. Até porque, no caso de BH, segundo informações de bastidores, são muitas as empresas concessionárias em dificuldade de manter o serviço em dia e conceber as exigências da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), através de seus órgãos competentes. A alegação dos empresários é sempre a mesma ao longo dos anos. Tem havido aumento de combustível e dos acessórios, além do envelhecimento das frotas.
Todas as vezes em que o assunto sobre mobilidade urbana na capital mineira entra em pauta, logo vem aquela história da falta de infraestrutura no trecho a ser percorrido pelos carros das concessionárias. Sempre culpam o traçado, previsto para a cidade apenas circundado pela Avenida do Contorno. Mas isso é falácia, visto que o aludido espaço representa apenas 3,5 % da área a ser coberta pelos coletivos. Hoje, além de atender a centenas de bairros, o sistema se vê na contingência de fazer conexão com o transporte metropolitano, gerido por diferentes prefeituras e concessões de empresas, cuja maioria nada tem a ver com autos circulando pelas vias públicas de BH.
No ano passado, foi acertado um repasse da municipalidade, através do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), da ordem de R$ 237 milhões. Esse aporte financeiro não se concretizou por completo neste liminar de 2023, por conta da falta de cumprimento das obrigações das empresas, segundo alegam autoridades municipais.
O dilema está nas mãos do poder público, com certeza. Apesar da solução da demanda ser intricada, notadamente por envolver milhões de usuários do serviço, fica aqui um registro pertinente: a presença da família Lessa, sob o comando de Rubens Lessa para liderar os empresários e o destino do transporte da capital, pode ter sido uma decisão não lúcida, até porque, eles já atuam na região metropolitana e algumas cidades do interior, com um enorme rastro de problemas, conforme tem sido noticiado pela imprensa de Minas.