Dados do Observatório da Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) mostraram que o Brasil registrou 113 casos de violência política no primeiro semestre deste ano. O número indica um aumento de 48,7% quando comparado ao mesmo período de 2021.
Ao todo, 23 estados tiveram algum tipo de ocorrência nesse sentido. De acordo com o Observatório, é considerado violência política “qualquer tipo de agressão que tenha o objetivo de interferir na ação direta das lideranças políticas”, como limitar atuação, silenciamento, imposição de interesses e eliminação de oponentes.
A ameaça foi o principal tipo de violência apontada, com 52 casos. Os homicídios aparecem em segundo lugar, com 21. Foram registrados também 18 atentados, 15 agressões, 6 homicídios de familiares e um atentado contra familiar de liderança política. Para entender os fatores que levam ao crescimento da violência política no país, o Edição do Brasil conversou com o cientista político Rudá Ricci.
Para ele, o caminho para coibir esse tipo de ação é a imposição de regras de convívio. “Não se dá liberdade para quem a usa para destruir a de outrem”.
O que é violência política?
Violência é um ato de destruição. Significa não aceitar o oponente, ou seja, atacar, ameaçar ou usar a força para eliminá-lo. Na sua opinião, a proximidade das eleições tem relação com o aumento de casos no país? A violência política tem a ver com o atual governo de extrema-direita no Brasil. Tecnicamente, pode ser definido como fascista, ou seja, mobilizador e que confunde a figura e desejos do líder com a defesa da pátria. Diferente de um regime autoritário que desmobiliza a sociedade, os governos fascistas mobilizam o tempo inteiro.
No caso específico do Brasil, temos, segundo levantamento do Vox Populi e Datafolha, em torno de 25 milhões de brasileiros que têm valores de extrema-direita, que envolvem racismo, homofobia, misoginia, ameaça do uso de violência contra todos que pensam diferente, ojeriza a toda forma de controle político e hiperindividualismo (valores “libertarianos”).
No caso mais contemporâneo utilizam as redes sociais para promover a mobilização permanente dessa base social. Não é apenas o período eleitoral que aumenta a violência política, mas é todo esse processo que começou em 2015 com a Operação Lava Jato que incendiou o país numa cultura de extremismo ideológico ao estilo macartista.
Quais outros fatores poderiam levar a esse crescimento de ameaças e outros tipos de violência política?
São múltiplos fatores acionados: uma postura de casta das classes médias e elites brasileiras que se ofendem com políticas sociais inclusivas, o medo da esquerdização do Brasil e, até mesmo, a excitação para fugir do tédio para segmentos conservadores. Há ainda ideologias exóticas, como as do tradicionalismo disseminadas por Olavo de Carvalho que sustentam a promoção de confrontos para construção de uma “nova era”.
Quais os impactos em nossa sociedade?
O maior é uma sensação permanente de “empate político”. O Brasil parece paralisado por esta onda de agressividade verbal, uma destruição dos limites de conduta e respeito e uma ameaça constante do uso da violência e do golpe de Estado. Para a maioria da população, que é mais reflexiva e ponderada, a minoria fanática de extrema-direita assusta e gera até mesmo pânico. Em outras palavras, o país está mais adoecido, inseguro e sem futuro certo. Este é o cenário propício para quem deseja o caos.
Qual é o caminho para mudar esse cenário?
A imposição de regras de convívio. Não se dá liberdade para quem a usa para destruir a de outrem. Trata-se do paradoxo do filósofo Karl Popper: “A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância”.