O transporte público de Belo Horizonte sempre serviu de bandeira para candidatos a prefeito em época de campanha. Essa realidade pôde ser constatada ao longo de duas décadas, mas hoje, a situação é inversa. Quem reclama são os concessionários que, segundo o sindicato da categoria, acumula um prejuízo mensal em torno de R$ 70 milhões. Os dirigentes da classe antecipam que ao continuar neste ritmo a situação pode se agravar ainda mais. Apenas para efeito de comparação, antes da pandemia, a receita do sistema oscilava na casa dos R$ 100 milhões, eram realizadas 25 mil viagens por dia, transportando cerca de 1,2 milhão de pessoas. Atualmente, esse número foi reduzido para média de 40%.
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), Joel Paschoalin, o segmento pode entrar em colapso total, caso não sejam adotadas medidas urgentes por parte do poder público, com vistas a minimizar a situação caótica dos empresários filiados à entidade. Essa situação anômala vem ocorrendo desde 2013, diante das perdas significativas em função da baixa demanda de passageiros. Agora, por conta da COVID-19, a estrutura já sofrível, só piorou.
Em recente entrevista concedida à imprensa, Paschoalin rememorou que uma das soluções macro para o problema seria a mudança no modelo de financiamento do custeio do transporte público, hoje bancado exclusivamente pela população, mediante o pagamento da tarifa. Segundo avalia o dirigente, a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) defende a adoção de uma nova política tarifária, com desoneração e recursos de outras fontes, que ajude a reduzir o custo da condução em até 50% em todo o Brasil, permitindo baixar o preço e trazer de volta ao menos 20% dos passageiros que deixaram de ter acesso a esse tipo de serviço.
Um registro significativo a ser lembrado é que os governos subsidiam as empresas do segmento em alguns países. Lá como aqui, o transporte público é um serviço essencial e de direito social a ser garantido a toda a população. Esta verdadeira catástrofe ocasionada pelo novo coronavírus também causou transtornos semelhantes no Brasil, como em Salvador, onde a própria prefeitura se viu obrigada a assumir a gerência do sistema para não deixar acontecer o completo esgotamento.
O presidente do Setra-BH defende uma imediata tomada de decisão por parte do poder público, a exemplo das prefeituras de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, onde são feitos regularmente aportes de recursos financeiros como forma de subsidiar o sistema. De acordo com Paschoalin, os empresários de Belo Horizonte estão no limite de suas capacidades e relata que um ônibus comum novo tem um custo da ordem de R$ 420 mil, enquanto um carro articulado gera uma despesa de R$ 1 milhão. Ou seja, são investimentos pesados, sem levar em conta as tarifas diárias da manutenção, além da folha de pagamento do pessoal.
Ele acrescenta que, embora no momento haja a possibilidade de redução de salário dos empregados, de acordo com a política adotada pelo governo federal, quando esse programa terminar o problema voltará a se agravar, podendo acontecer atrasos nos pagamentos mensais dos trabalhadores.
O fato é que a população reclama da falta de transporte de qualidade e os empresários dizem que já estão no limite de sua capacidade de atender os usuários com mais presteza. É claro que algo precisa ser feito para evitar um desassossego antes que seja tarde. Indubitavelmente, o poder público é convocado a atenuar essa anunciada contenda.