O medo de morrer vítima de assalto, latrocínio, agressão, arma de fogo ou facada assusta o mineiro, mas a causa de morte que supera todos esses crimes violentos é outra: o trânsito. Mesmo em tempos de isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus, pelo segundo ano consecutivo, um levantamento da Seguradora Líder, administradora do Seguro DPVAT no Brasil, aponta números alarmantes: em 10 estados brasileiros, o trânsito mata mais do que os crimes de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte. Minas Gerais se destaca neste ranking mórbido: é o segundo estado com maior número de óbitos no trânsito.
Um comparativo entre as indenizações pagas pelo DPVAT e os dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, mostra que, em 2019, 10 estados somaram 23.757 indenizações por acidentes fatais no trânsito. No mesmo período, os óbitos relacionados aos homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte totalizaram 16.666. Em Minas Gerais, a situação é ainda mais catastrófica. O estado só fica atrás de São Paulo em número de mortes no trânsito.
Enquanto o estado paulista lidera a lista com 6.026 acidentes fatais no ano passado, o estado mineiro bate 4.161 sinistros pagos para famílias de vítimas do trânsito. No mesmo período, foram registrados 3.200 e 2.833 óbitos por crimes violentos, em SP e MG, respectivamente.
O engenheiro civil e especialista em transporte Silvestre de Andrade explica que o número assustador de vítimas de trânsito é uma questão multifatorial. “Não é uma causa única, é uma combinação de fatores. As estradas estão envelhecendo no Brasil e os carros estão cada vez mais modernos, potentes e velozes. Grande parte das estradas brasileiras foi construída em meados do século passado e isso significa curvas fechadas, rampas fortes, condições precárias e falta de acostamento. Some-se a isso à crise financeira brasileira, que piora as condições de manutenção das rodovias”, diz.
A situação é ainda mais problemática em Minas pelo fato de possuir a maior malha rodoviária brasileira, com 269.543 km. “É um estado síntese do Brasil. Uma malha muito extensa, mal preservada, com poucas vias duplicadas e rodovias estreitas com um relevo que não ajuda. E, dentro das cidades, o desrespeito continua, não é à toa que existem tantos radares para tentar diminuir esse incidente. Além do problema do celular ao volante que é bastante sério e que concorre com a ingestão da bebida alcoólica como as principais causas de acidente grave no trânsito”, avalia Andrade.
Para ele, mudar esse cenário não é tarefa simples. “A transformação passa por melhorias da malha viária em si. Têm sido feitas concessões, o que traz níveis de segurança mais altos do que as demais vias do país. A fiscalização de trânsito também precisa ser intensificada. Fala-se muito da indústria da multa, mas existe uma muito maior: a indústria da infração. O desrespeito à legislação é campeão em produzir acidentes. Também precisamos de uma Justiça célere e rigorosa nas questões de trânsito. Além da educação, desde a infância, sobre comportamento e legislação do trânsito, já que toda vez que qualquer um vai para rua está fazendo parte dele”, acredita o especialista.